segunda-feira, 27 de novembro de 2017

domingo, 30 de agosto de 2009

POEMAS CARIOCAS

ANTOLOGIA


Apresentação e organização de
Thereza Christina Rocque da Motta


Ibis Libris
Rio de Janeiro
2000


APRESENTAÇÃO

Com dez anos vim para o Rio.
Conhecia a vida em suas verdades essenciais.
Estava maduro para o sofrimento
E para a poesia.
Manuel Bandeira, Infância, Belo Belo


Quando me mudei de volta para o Rio de Janeiro em fevereiro de 1999, uma semana antes do Carnaval, nem poderia imaginar o que estava me aguardando. Sabia que havia muitos poetas no Rio em constante lapidação, mas não fazia idéia que um movimento crescia sorrateiro, se espalhando e tomando conta dos teatros, dos bares, das livrarias, das praças e das esquinas, pegando de surpresa leitores e amantes de poesia, unindo, assim, os mais conhecidos e veteranos aos novos e inéditos, para ler e ouvir poesia à noite, quando todos os gatos são pardos e os poetas, inúmeros.
O primeiro convite veio de ninguém menos que Olga Savary, resistência poética a toda prova, que sabia que eu estava reinaugurando o Rio depois de 23 anos de ausência. E fui assisti-la no Panorama da Palavra, que ainda ocupava o Centro Cultural Margarida Rey, em Copacabana, sob o olhar auspicioso da poeta gaúcha Helena Ortiz, que desde o início do ano havia se enveredado em sua cruzada, convidando autores para ler seus poemas todas as segundas-feiras, como se estivessem em casa.
Minha mania por essas leituras já era antiga, desde São Paulo na década de 80. Em 1995, retomamos o gosto de fazê-las quando Claufe Rodrigues lançou a semente de sua Ponte Poética, imediatamente amparada por Claudio Willer, da Secretaria de Cultura do Município de São Paulo. Mesmo tendo estado com todos esses poetas cariocas em dezembro de 1995 (Mano Melo, Chacal, Ivan Junqueira, Denise Emmer, Geraldo Carneiro, Armando Freitas Filho, além do próprio Claufe) – quando lancei Areal na Livraria Cultura, espaço obrigatório da literatura paulistana – ainda não havia se dado o verdadeiro encontro que, fazia tempo, se anunciava.
A partir da leitura dos poemas de Olga, no primeiro semestre de 1999, feita por vários poetas amigos, entre eles Sérgio Gerônimo, fui encontrando os que militavam na noite carioca. Enquanto redescobria uns e era apresentada a outros, fui ouvindo, embevecida, aquela profissão de ler poesia em público. Não custou muito para que eu também fosse convidada, abrindo, assim, espaço para minha poesia no Rio. A chance veio justamente no mesmo lugar onde havia começado muito anos antes na época de colégio – a Universidade Santa Úrsula. O evento foi organizado por Eduardo Guerreiro, estudante de lá, que criou a Santa Ursa Maior com intenção de reunir poetas e músicos numa apresentação eclética, no dia 16 de junho de 1999. Nesse dia, já estavam ali presentes os integrantes do grupo que viria a se formar menos de um mês depois – Cairo e Denise Trindade, Edison Veoca e eu, além do próprio Guerreiro, elemento aglutinador desses poetas. Com a adesão de Victor Colonna e Marcello Rollemberg, fundamos, em 10 de julho, Os Descaravelados, passando a fazer nossas leituras e apresentações semanais de poesia no Espaço Caravelas, em Botafogo. O grupo teve a duração de “uma estação”, mas serviu para inocular-nos no meio poético carioca de uma vez por todas.
Nessa época, somavam-se mais de 20 eventos de poesia na cidade, espalhados por vários bairros, que aconteciam semanalmente, quinzenalmente ou mesmo mensalmente, mas sempre reunindo integrantes de todas as tribos e todos originários do mesmo momento de reunião em torno da poesia. Surgiu, assim, a Sexta de Palavras, organizada por Paco Cac desde outubro de 1998, com leituras mensais no Museu da República, o Ver o Verso, composto por Alexandra Maia, Pedro Bial, Claufe e Mano Melo, com leituras semanais no Planetário, o Xalam, criado por Kívia num bar do Flamengo, até altas horas da noite, as leituras na livraria Razão Cultural às quartas-feiras, além do Bar Bip-Bip – ambos em Copacabana – comandadas por Vitor Farinha e Marcus Vinicius, abrindo espaço para encontros de poesia entre os eventos musicais promovidos pelo Alfredo Melo. Teresa Drummond, no Méier, continuava fazendo o seu Poeta, Saia da Gaveta!, iniciado em 1993. Eram o mês e a semana de eventos, leituras, apresentações e performances, que foram crescendo à medida que nos aproximávamos do final do ano. Ainda havia os encontros no mezanino da livraria Ponte de Tábuas, a Ponte de Versos, por iniciativa dos poetas do Jardim Botânico, Gilson Maurity, Paulinho Lima e Pedro Tostes, a partir de julho de 1999 e dirigido por Sady Bianchin, mestre dos “poemas-acontecimento”.
Aí não teve mais jeito: o CEP 20.000, para comemorar nove anos de existência, resolveu fazer uma longa comemoração no decorrer de setembro. Foi a vez de Chacal, Guilherme Zarvos, Silvio Barros, Ericson Pires e outros tantos agarrarem o microfone, dando espaço para algo mais além da poesia, com músicos e performances.
Foi nesse clima que aconteceu o I Festival Carioca de Poesia, no Teatro Gláucio Gill, em final de setembro de 1999, organizado pelo grupo Poesia Simplesmente que, nos três últimos anos, já vinha juntando música à poesia, reunindo artistas de qualidade, levando a poesia falada e cantada também a comunidades carentes, subúrbios e colégios em outros municípios próximos ao Rio de Janeiro. Nesse Festival, todos estavam presentes. Foram quatro dias de poesia a rodo, que conseguiu reunir praticamente todos que tiveram seus eventos, grupos e trabalhos de poesia apresentados ao longo do ano, juntamente como poetas já consagrados.
O mesmo Festival se repete em novembro de 2000. O que será da poesia brasileira, ainda estamos descobrindo. Comemoramos os quinhentos anos de Descobrimento e ainda há poetas surgindo e ressurgindo em todas as praias e plagas brasileiras. Diga-se de passagem, o movimento de poesia é mundial. Em todos os cantos, da Austrália ao Canadá, da Europa ao Japão, as publicações de poesia e poetas tomaram conta da praça.
Tudo isso só para dizer reiteradas vezes que a poesia estava valendo cada vez mais a pena. Apareceram novos nomes e talentos antigos foram resgatados. A poesia não mais jaz em berço esplêndido, mas toma conta das páginas dos cadernos de leituras, das revistas de programação cultural desde meados de 99. O que estaria acontecendo, se perguntam todos? Por que esse surto poético de uma hora para outra, já que não estava se dando atenção à poesia ultimamente “no Brasil”?
Ledo engano. A poesia permaneceu estática, imóvel, esperando, como a semente, seu tempo de germinar novamente. E agora esse tempo chegou. Por isso todos botaram a cabeça para fora, puxaram seus livros das gavetas, tiraram o pó das estantes, relendo os poetas consagrados e fazendo outros aparecerem, inimagináveis algum tempo atrás.
No Rio de Janeiro, cadinho de poesia de todos os Brasis, para onde todos se mudam de malas e bagagem e não querem mais sair, tive o prazer de presenciar o renascimento do movimento poético carioca, da mesma forma que o acompanhei em São Paulo, entre 1980 e 1984. E por que ressurge exatamente agora? Desde 1996, foi retomada a publicação de poemas, abrindo-se sucessivas editoras dedicadas principalmente à poesia, a Casa da Palavra, 7 Letras, no Rio, Nanquim e Ateliê Editorial, em São Paulo. Eu tenho uma teoria: em 1996, reiniciou-se um novo ciclo do horóscopo chinês, o ano do Rato. Igual a 1984, quando se encerraram as atividades começadas em 1972. A cada doze anos, portanto, alternam-se ciclos Yang e Yin. Um de expansão e outro de retração. Muito bem, aproveitem, pois este ciclo Yang, de expansão, vai até 2008. E tudo que tiver de ser feito em termos de poesia, publicações, divulgações e exaltações, tem de ser feito agora, enquanto durar este ciclo, iniciado em 96. Isso vale para todas as áreas de atividade humana, mas estamos falando aqui de Literatura. Há um tempo para todas as coisas e o tempo de criação e expansão é agora. Por esse motivo, está acontecendo tudo isso neste momento e não antes. Também, por isso, tivemos de amargar doze anos de espera, escrevendo para nós mesmos, para agora colhermos livros à mancheia.
O mercado editorial está mudando. As livrarias estão tendo de se adaptar à realidade informatizada e o livro virtual não é mais uma ficção. Haveremos de continuar publicando livros tradicionais por mais algum tempo ainda. Mas, aos poucos, isso também vai se transformar. E por que poesia? Aí reside outra teoria minha: muitos provavelmente não terão escrito um romance, um conto ou uma crônica ao longo de sua vida, mas todos, sem exceção, com toda certeza, em algum momento, escreveram um poema. Mesmo impublicado. Mesmo impublicável. A poesia ecoa no coração de todos e é patrimônio inalienável do ser humano. Porém, tornar-se poeta de ofício é outra história.
Muito já se disse ao longo desses dois anos em que os poemas resolveram ganhar espaços nas leituras públicas. Em novembro de 1999, enchemos um bondinho de poetas e subimos até Santa Teresa, todos aos berros, numa manifestação espontânea e feliz. A Passeata Poética só fez sentido para quem participou dela, tenha sido no Largo do Machado ou na praia de Ipanema, pouco antes do pôr do sol. Esse é um encanto que só cariocas (natos ou não) conhecem. A poesia no Rio tem outro gosto. Vale mais a pena. Eu, que de paulista tenho a certidão de nascimento, me confesso carioca de batismo e criação, onde vivi até os 18 anos. Parafraseando o Sady, os poetas daqui não são mais importantes que os poetas de lá, mas o charme é outro. Aliás, os happenings são mesmo as leituras ao vivo.
A antologia Poesia Carioca não traz todos os poetas presentes em todas as leituras nesses dois últimos anos. Há ausências lamentadas. Porém, não incluí também os mais conhecidos. Juntei, tão somente, os que estavam “mais presentes”, “mais constantes”, “mais atuantes”, os “inolvidáveis”, os “essenciais”, os “possíveis”, para ter uma amostra do que foi lido de melhor durante esse período. A idéia, aliás, veio de Nei Leandro de Castro, em dezembro de 99. Aceitei a incumbência apenas seis meses depois, porque, naquela época, não sabia que voltaria a fazer livros, como na década de 80.
A poesia continua. Viva, semovente, destemida. Ela contamina. O trabalho do poeta é solitário. Mas sem um público para lê-lo e ouvi-lo, ele morre. Damos asa à palavra, à poesia falada. Somos responsáveis por tudo que está acontecendo agora. E, sabemos que, em breve, estaremos mudos. Mais nada.
Thereza Christina Rocque da Motta
Rio de Janeiro, 11 de setembro de 2000


Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem
Ferreira Gullar, Traduzir-se,
Na Vertigem do Dia


Descansa, ó poeta. Aperto em minha mão
o que me deste: esse íntimo segredo
que me fez teu herdeiro e teu irmão.

E o resto é o vento no áspero rochedo
Ivan Junqueira, Terzinas para Dante Milano,
A Sagração dos Ossos


Por isso digo:
amo.
Pois te amo
ainda mais além do que me és:

– te amo como amo a poesia
Pedro Lyra, Soneto de Confissão – V,
Desafio


Tudo é veste, o nosso rosto, o nosso nome, (...)
Tudo é veste, e o instante eterno nos impede de nos vestirmos,
para que sejamos, só sejamos, na perfeita nudez
Alexei Bueno, Ode III,
A Via Estreita


Oh mundo indevassável enigma
mar de abstrações e extravios.
Quando enfim adivinharemos
o todo de que somos fragmento?
Astrid Cabral, V,
Torna-Viagem


Por que escrevo?
Porque sou
pouca e mínima
embora vária,
porque não me basto
Olga Savary, Comunhão,
Repertório Selvagem


o poeta sem sua plumagem
é um deus exilado do cosmo
strip-teaser metafísico
só lhe resta sambar no inferninho do caos
sob os neons do nada
sempre nu diante do espelho
sem espelho diante de si
Geraldo Carneiro, Canção do Exílio,
Folias Metafísicas


A vida não é mais que o tempo de viver
Domício Proença Filho, A glória que fica,
Breves estórias de Vera Cruz das Almas


(...) repetir
a mesma poesia, a mesma lira... repetir,
como não podemos fazer com a vida
Elisa Lucinda, Fettuccine ao Gesto,
O Semelhante


Poesia: vício, lume, tempestade que não passa
Pedro Lage, Sei...,
Entrevista com o Chipanzé


É muito solitário ser poeta,
dizer essas coisas incompletas,
tentar o indizível, ter por meta
o inefável, o não dito, o etc.
Jamil Damous, O Etc., A Camisa no Varal






BRASIL BARRETO


TEMPORAL


gotejo sentidos
na madrugada
degelo tua alma
na chuva
densa escoada
na cama
cavalgo nas horas
despidas
que nos sobram.


ELEMENTO FOGO
para Odara

Sou um confiscador
de fogo,
tenho fascínio
por tudo que brilha,
me apego
por tudo que queima.
– Alardo o que em mim arde –

Sou cria
da vida arisca
tenho para ela
anzol e isca.
Espero em tudo
desejo de coisas e partes.

O que me resta
são carvões
acesos em brasas
gerando um calor
de forjas a queimar
o que antes fora apagado.


MATINAL

Entre a madrugada e o amanhecer
coexiste apenas uma linha tênue
arcada de efêmera luminosidade
tez crepuscular entre os mundos.

A madrugada de escuros mórbidos
deixa-se apanhar por lampejos.

Logo estender-se-á em dia
cena transbordada em nuances
levará o silêncio que assombra
as raias dum espaço incontido.

O dia com sua rotina infalível
cumpre seu papel de rasgar véus.

Descortinar cotidianos dos seres
figuras vindas de dormentes sonos.
Por agora apressam-se nas avenidas
desfilando sonhos em horas vivas.

Enquanto vou seguindo em meu turno,
quebro esquinas dos becos de ontem.


CAIRO DE ASSIS TRINDADE

ÍNTIMO ESTRANHO

quem é esse cara,
na frente do espelho,
que me olha na cara
e parece alheio?

quem é o sujeito
que, meio nervoso
e meio sem jeito,
disfarça e faz pose?

quem é que me busca
no centro do dentro,
se perde e me ofusca?

por que eu não entro
e não vejo nunca
o reflexo do avesso?


SOS

no meio do bando
abandonado nado
navego e naufrago
abanando pro nada.

ando aonde a onda
ameaça e amassa a massa.
corro e massacrado
morro só. sem socorro.


LABIRINTO

preso ao meu corpo, preso a meu peso
preso a meu porto – meu endereço

preso a meu nome, preso ao presente
a meu telefone e meu desespero

preso a meu ego, preso a meu preço
ao que carrego e ao que careço

preso aos pesares, preso aos prazeres
preso ao prosaico, ao problemas burgueses

preso a prazos, horários, agenda
conta bancária e quanta corrente

preso a números e documentos
preso ao desprezo que sinto por eles

detento de tantos, exilado em mim mesmo
sou meu refém e meu carcereiro

tenho as chaves e as algemas
e entre grades que eu invento

me liberto no poema


DALMO SARAIVA


Ajuntar amigos, não correr perigos
Deitar no mato, desafiar o tempo
Semear a voz, colher palavras
Cortar o mal, viver o bem
Marchar sem rumo, buscar a direção
Fechar os olhos, abrir a visão
Viver só, fazer parte do mundo
Sentar no deserto, imaginar uma floresta
Beber a água, irrigar plantações
Sentir o medo, avançar com coragem
Se perder no dia, se achar na noite
Naufragar no mar, descobrir oceano
Cortar a terra, descobrir universos
Unir o verso, formar um poema
Agrupar crianças, educar os homens
Comer a fruta, plantar o caroço
Filtrar o sono, dormir tranqüilo
Sonhar com a guerra, acordar em paz

Não estamos num mato sem cachorro.
Cachorro tem demais.
O que está faltando é mato.

Minha poesia não tem pai nem tem tia
Minha poesia é o que sinto nas janelas de cada dia
Minha poesia é um pote de água fria
Minha poesia é o fundo da bacia
Minha poesia não tem pó nem boemia
Minha poesia veio da folia
Minha poesia mastiga os mares e a maresia
Minha poesia dança uma canção vadia
Minha poesia viaja nos vagões do trem da alegria
Minha poesia é quem me fez moradia
Minha poesia veio do mato e da ventania

Venho dos sonhos distantes,
Das nuvens, dos desertos;

Venho de onde o vento resmunga,
Das curvas, dos rochedos;

Venho das asas dos pássaros,
Os de dois bicos, três olhos;

Venho da boca do tempo.

DELAYNE BRASIL

SÓ UM SEGUNDO

Os jovens têm pressa.
Correm
ávidos, afobados, afoitos, aflitos
e, quase sem fôlego,
descansam no berço
do tempo todo do mundo.

Um dia (mas, quando?),
acordam
adultos, austeros, amargos, aflitos.
Não correm e, sem fôlego,
descansam no tanto
de tempo que é só um segundo.

Os corpos dos homens
são sábios, viventes, videntes
das outras camadas de corpos
por baixo da pele latentes.

E as mentes inquietas
atiram suas setas
por todos os lados,
sem nenhum cuidado
com o tempo dos corpos.

Um dia acordam (mas quando?).
E sofrem os corpos cansados
e o tempo, calado, embala
para sempre seus sonos.


MARCO

As mães só mudam de endereço.
Assim se diz e se repete.
Todas iguais.

Estas que carrego nos olhos
giram em torno de uma praça:

Ponteiros enfileirados,
marcam um tempo eterno.
Fincam no chão
o sulco de seus rostos,
as rugas do coração.

Iguais os lenços, a dor,
a luta do luto resistente
pelos filhos sem endereço.

Este poema, aqui aparecendo,
quer dizer desaparecido.


GRANDE AMOR

Grande amor.
Tão delicado que temo
ferir o papel.

Os corpos afogam palavras infelizes
– morte bem-vinda, desejada.

Mas, à distância, trago-as
para que ressuscitem
no vácuo do texto.
Se me entendem, vejo-me enorme.

E tento, grande amor,
envolvê-lo com pernas, braços,
músculos e jeitos que me faltam.

Tento, com o fino prazer
da certeza impura.

DENIZIS TRINDADE

DISTÂNCIA

eu em casa
tu na rua

tu de gala
eu tão nua

eu na cama
tu na lua

tu em outra
eu na tua


ANJOS DO SEXO

meninos meigos, vorazes
meninos serenos, audazes

meninos quentes, carentes
meninos amantes, ardentes

meninos não dosam
gozam e gozam


MULHER MAIOR

a todas as mulheres

sou uma mulher inteira,
fêmea em perece cio,
sem medo de amar e errar.

sou bruxa, fada e guerreira,
enfrento até tempestades
no deserto e em alto mar.

eu sou tudo e não sou nada
e sobrevivo às tormentas
sem escudo e sem espada.

sou amante das estradas
e namorada dos ventos,
por isso é que eu sigo em frente.

mais que tudo, eu sou mulher
para o que der e vier.
mais que mulher, eu sou gente.

EDISON VEOCA

TEU NÃO

Exponho-me à palmatória do teu mundo.
Corrói o coração o não
que recebeu de pedra.
Teu frescor de areia e vidro
atravessa o deserto
que se instalou em minha face.
Desejo-te como um condor
que quer um despenhadeiro,
um tigre
de olhos fixos na caça.
Mas o teu não de sal e enxofre,
de soda cáustica temperada na palavra,
faz-me querer outro curso
um rio em cabeça d’água..
As cores de uma tarde-outono
invadem minhas retinas.
Cai o sol por detrás da árvore que balança.
O sol ensangüentado
incendeia-se em raios animalescos,
coloridos de lilás e amarelo.
Agora, não mais o sol
apenas os raios.
Agora, sei que sou
âncora tatuada no fundo dos sete mares,
sou somente carne e gesto
boca de brinquedo na infância da praça.

NO BECO QUE A CIMEIRA NÃO VIU

14 ANOS,
QUINZE TIROS DE FUZIL.
AS VÍSCERAS ESFOLADAS,
EXPOSTAS, COAGULANDO.
O SOL ASSISTE EM FOGO
O SONHO DE VIVER
QUE AINDA PULSA NOS MIOLOS.

MOTOR 4.0

Ela
de
quatro.
A alma no coração do sexo
Atrás batendo, batendo.
Alicio qualquer ruído.
Na tua nuca: suor.
Com a boca,
dou-te vento.

EDUARDO GUERREIRO

ATALHEI

Minha nervura não é dengosa:
é flexível;
minha planura não é pedregosa:
é impassível,
não vibra
na mesma amplificação
que as gargantas de
microfonia fácil.

Sem cair temerário
em poço estressado
nem fantasiar milagre
roubado de expectativa
tô sempre cutucando
minha zona inventiva,
lado
alado
adentro
de nosso
outro lado
pra não ser só um ímã
de imantação gasta,
casulo de visão presa,
mal-estar com muito grito
em rouco atrito
grudado no chiclete
nervoso de cada
passo do momento.
Estou colado no flerte
gostoso de cada
caso que invento.

Minha narina é mais ampla
e respiro refrescante
e sopro rima volante
e vôo em vento galante.

O resfriamento do INIMIGO
é sorvete pra saliva
sem nenhuma TRAVAÇÃO
de olho mau piscado
ou de rosto mau olhado;

pro tom
do canto em curso
eu ando ando ando ando ando ando ando ando
distraído
e sem querer
querendoar
e sem querer
querendobrar

quando vejo





atalhei.

CARAVELA ......... ..... ... ..
LEVADA ... .... .. .
CALADA .. .
para Marcello Rollemberg,
Thereza Christina Rocque da Motta,
Edison Veoca, Cairo e Denise Trindade

Caravela,
escancarada ao
sol,
sorri sua brancura corada.

Minha cara
é mais cara
quando empalidece,
descaravelada.



Ela vaga .......... ..... ... ..
no azul,
eu zelo meu véu
na voz

invisível.

ATÉ O TOMBO
a Chico Bosco

O que se faz do medo de pensar?
quando um silêncio esticado no mal,
na solidão de um estranhamento,
de sensação clara do impossível
passando forte por fora;
quando calado no mundo dos outros
a face vibra aquilo que,
no fundo do muro,
apregoa o imenso erro
de desentender o todo
aqui forjado.

O que fica do medo em aberto?
Evita-se, diverte-se, distancia-se
como se fosse de brinquedo,
ou assume-se a intimidade do desconforto
até o tombo?


ELAINE PAUVOLID

“POR QUEM OS SINOS DOBRAM?”

Dobram sinos
Não por mim, não por você.
Alguém deve estar silente, longe
Das vozes e dos automóveis, dos bancos,
Deixando cicatrizes
Em lenços brancos.

LUNA

Lâmpada erguida, pequenina, nua,
Lá fora misturam-se ruídos.
Esgueiro-me feito cola, ácida.
Rodas de bilha roçando pedras
Úmidas; vento bailando folhas,
O lume do pensamento exato.

Um blues, a garrafa aberta,
Cortes de memória repletos indo e vindo
Projetados no branco, voláteis.

Vontade de contornar a noite
E debato-me pelo seu abraço.
Depois, vencido, tomba o rosto
Milhares de vezes tombado
Lentamente, em cada cena real
Acordando em cada uma delas,
Recomeçando, renascendo uma vez mais
Como quem se lava n’água fria,
Como quem a alma batiza.

CASEBRE DOENDO

Dentro de mim, um corte frio e afiado
Como navalha, e é água
Que agüento em desejo desafiado,
A misturar-se em mágoa.
A estar invisível, sob um manto
Dum infeliz encanto
De inocente insensatez
Sobre o muro alto d’altivez
Inoportuna e cega.
Inapropriada entrega
Dos olhos beijando corujas
Acenando morte,
instante que me cobre.

A DANÇA NATURAL

Sopram os raios os ventos – da cortina, a dança.
Correm ao varal, à roupa que se alcança.
Os relâmpagos, olhos rasgados no céu grisado,
verdes, amarelos, azuis erguem-se por todo lado.

Tudo, preparo à chuva bailarina.
Quem ficará ao que se anuncia?
Será uma dança de boda, ou um cortejo funéreo?
Quem antecipa ao da natureza mistério fero?

MINHAS BOAS PERSIANAS

As persianas nunca mentem.
Sobretudo, as claras, quase brancas.
Anunciando hora exata no dia,
Delineiam nossa silhueta à noite.
Abusadamente lânguidas,
Permitem os barulhos todos,
Passar, generosa, a brisa.
Jamais erguendo totalmente,
Sem revelar, feito boa noiva,
O que ocorre nos interiores.
E se envelhecidas entortam,
Consentimos em ainda abrigá-las
Se bem dominamos suas cordas.

LE PASSÉ COMPOSÉ

A casa está suja
E eu bem precisava
De sapatos novos.

A roupa está russa,
O estômago, ruim,
O rosto, macerado.

Ainda me restam as
Esmolas de um meu
Passado remorso
Que condenso, atenta
A uma nova chance.
Condeno-me ao veneno
Bem plástico,
De inacessível
Antídoto in
Natura, rápido.


ÉRICO BRAGA


TARÂNTULA

A tarântula
que me sobe à cama
e alcança meu corpo
tem negras mandíbulas;
espúrio veneno
inunda-me o sangue
e, de forças exangue,
resistir eu não posso,
pois se me quebram os ossos
e os músculos falham;
em minha mente se espalham
idéias espúrias,
longínquas lamúrias
de mentes febris,
de gente doente,
de seres senis;
vejo-me alquebrado,
súbito transformado,
se me crescem os pelos,
se me caem os cabelos;
eu, transtornado,
levo as mãos á cabeça
e me vejo abraçado
por seis patas espessas;
negras mandíbulas
se me crescem à face
e, face ao destino,
me vejo no impasse
de subir à minha cama
e, em mim mesmo, sereno,
injetar dose insana
de meu próprio veneno.

NECROFILIA DA LEMBRANÇA

Vinhas da minha infância,
viva lembrança da ânsia
de unhas que rasgam as carnes
de uvas frescas e em sangue
morto a transformam – memória -,
em vinho tenro e lânguido,
minha ígnea história.

Vivo das uvas, da ilusória
sensação contraditória
de ver nas carnes vivas
uvas frescas – clepsidra
na fratura do verbo exposta:
o gozo, em meu sangue de cidra,
só destilar das carnes mortas.


MAIOR PECADO DE UM HOMEM

cometi o erro da inocência,
flagrei-me no pecado da bondade,
cobri-me dos andrajos da decência,
disseminando, como peste, a caridade;

amarguei o trago turvo da prudência,
o vil sentimento da saudade -
o animal proibido da consciência,
enjaulado pela própria realidade;

sigo, abarrotado de princípios,
vendo a vida se valer de meios,
sejam puros, amorfos, sejam ímpios;

embriagando-me de amor eu sigo,
vivo da fome e vago cheio
das riquezas de um mendigo.

TUDO PELA METADE

Mas é claro que foi tudo pela metade,
eu fui meio forte, fui quase covarde,
daquela vez em que quase fugi.
Por outro lado, também por ali,
vi parte de um vulto, foi pela metade,
uma sombra, um fantasma, que eu juro que vi.
Mas, pensando bem, acho que essa saudade
faz ver um passado que não sei se vivi.

E, falando em saudade, não sei se a cidade,
no meio do dia, em meio aos civis,
que andam soldados aos bancos, às grades,
alheios às praças, tão presos em si,
como eles não vejo, de minha sombra, a metade,
nem a parte que chora, nem a parte que ri.

Mas é claro que foi tudo pela metade,
o amor verdadeiro ... que eu quase morri,
o amor derradeiro... acabou, já era tarde,
e vejam! no fim, sei que quase sofri.
Enfim, veio a canção, uma saudade,
uma inspiração, talvez piedade,
pela indecisão – o que deixei de sentir...

Por uma vida de graça,
que, pelo preço da praça,
por metade,
eu vendi.


EUGÊNIA LORETI

MORTE SOBRE O ÉDEN (I)

Tempos modernos
Apocalipse now

Assim caminha a humanidade:
às avessas, às vezes
quando Deus tem crise
de coordenação motora
e escreve certo através de linhas tortas


MORTE SOBRE O ÉDEN (II)

Por aqui o vento sopra
É possível sentir a poeira radioativa
percorrendo os ossos
Meus brônquios estão prontos
mas, é pena,
pena não ser batráquio
pena não ter guelras
pra poder escapar desta guerra
e não amanhecer entre os destroços

ECO

A tarde está dourada
Um vento sibilante
esvoaça pela praia
O sol bate e brilha
Na água aparvalhada do canal
o reflexo é bonito
(O reflexo é bonito!)
A água nem parece podre!

AMOR DIABÉTICO

Meu doce!
Minha glicose!
Meu açúcar fatal!

BATE GIRL

Oh, dádiva divina!
Divido a vida
em duas divas:

Uma, Lívia
deitada no divã
tão lívida, tão lânguida

Outra, Iva
Viña del Mar, vândala!
Usa perfume de sândalo
e me deixa esperando na sala
Tarântula!

CONFITEOR

Penso no quanto amadureci
neste mundo de Deus
Durante este tempo eu me modifiquei
sinto como se tivesse crescido rapidamente
em fração de instantes
Esqueci de brincar
Me tornei séria, sisuda, barbada,
barbuda, adulta, pesada, intelectual
Cai na trama do trema
e achei que o tempo
era um poema inacabado
Eu me desesperei
Depois,
taquei fogo nas folhas mortas do caderno-diário
outono da adolescência
Poemas nunca mais!
Entretanto,
quando vi os cabelos brancos no sopé da testa
e os olhos empapuçados de poeira e pó
achei que estava sofrendo de involução precoce
Me atirei nos braços do primeiro
que me apareceu pela frente
e gritei:
Libertinagem para as borboletas!

Desde então, minha amiga,
tenho vivido feliz para sempre
em paz com os meus óvulos másculos

SOCIAL

Hoje é dia 29
Dia do Inhoque
Não tenho dólares
A dureza é real

DESTINO

Dia após dia
minha cara encarquilha
Dia após dia
o tempo passa e eu acho graça
Nada fiz
nada realizei
exceto...
alguns poemas ao pé da cabeceira
poemas que ficarão ocultos
guardados na gaveta da mesa
poemas que permanecerão intactos
feito um talento nato
grudado no ventre
e destinado ao acaso

Dia após dia
minha cara encarquilha
feito a argila que se quebra sem água
Argila da minha vida que nunca moldei
exceto...
alguns poemas ao pé da cabeceira
única paixão verdadeira
que regeu meus dias
desde sempre até aqui

BATICUM

(– Vânia, eu tenho fome...
– Tânia, eu tenho fome de homem...)
Quando eu fui pra Pensilvânia
eu levei a Vânia

Quando eu fui pra Transilvânia
eu levei a Tânia

Pra Vânia tudo foi em vão...
Pra Tânia tudo foi tão, tão...

Vânia
Tânia
A história de uma infâmia!

(–Vânia, eu tenho fome...
– Tânia, eu tenho fome de homem!)

A VINGANÇA

A tua noite chegará.
A câmera mostrará
a repulsa ante o conde
que quer vida.
Minha cara horrenda,
sorrindo de prazer
e nos meus dentes,
fresco ainda,
escorrendo o sangue
do teu pescoço.

Somente um close
poderá revelar nos meus olhos
a mesma tristeza dos olhos
do Terence Stamp


FLAVIO NASCIMENTO

TESTAMENTO

Não sou mais desse mundo!
Vivo em outra esfera
atmosfera
espaço
estratosfera.
Não participo dessa degradação
decadência
desagregação.
Ofereço paz
criação
carinho
emoção
E recebo em troca ameaça
provocação
violência
agressão.
Não quero saber de guerra
invasão
disputa
destruição.
Nada tenho a ver com essa chacina
com esse tiroteio
essa carnificina.
Distribuo doces
balões
bombons.
Escuto fuzis
escopetas
canhões.
Eu não quero mais saber de tensões
conflitos
agitações
tumultos
confusões.
Prefiro o amor
a paz
a amizade
o silêncio
o sossego
a tranqüilidade.
Não quero mais saber de crimes
violações
ciúmes
traições
desastres
holocaustos
atentados
cremações.
Não quero saber
dessa loucura artificial
programada
química
pré-fabricada
dirigida
teleguiada
computadorizada.
Não quero saber desse massacre
desse homicídio
desse acidente
desse suicídio.
Chega! estou cansado
saturado
exausto
esgotado
dessa paranóia
dessa repetição
dessa neurose
dessa obsessão.
Deixem-me em silêncio
em estado de ausência
em aparente alienação
desligado
desplugado
em máxima concentração.
Vou procurar ficar zen
em oração
em êxtase
em iluminação.
De minha parte,
já fiz o que pude.
Pus em jogo a paciência
a resistência
a saúde.
Preciso descansar,
dormir um pouco
tentar sonhar
fantasiar
delirar.
Quando melhorar,
podem me chamar.
Quando acabar a poluição
a safadeza
a corrupção.
No dia de São Nunca
São Pedro
São João.
Me acordem quando chegar a hora
da justiça
da transformação
da mudança
da revolução.

Friburgo, Lumiar, outono, abril de 2000


GILSON MAURITY


SAUDAÇÃO

Saúdo daqui, desde agora
Nesta tarde escura
As pessoas amadas, queridas
Que (até onde eu saiba) ainda não morreram,
Que estão vivas, por aí, nas casas,
Nas ruas, nos bares, em outros lugares,
Com outras idades e outras idéias,
Que reaparecerão breve ou nunca.
E me permito esse gosto excitante
De ir desfilando as memórias dos rostos
Os comportamentos, as palavras ditas,
Em esperança e desespero,
Que foram manifestando durante a vida.
Ou mais, suas exaltações comigo compartilhadas,
No convívio que tivemos nesses poucos ou muitos anos.
E me preparo, jubiloso, para receber todo mundo.
De repente, ao mesmo tempo.

O HOMEM E SEUS FILHOS

O homem sai e leva os filhos ao colégio.
A mulher tinha morrido, sem prevenir, não faz muito tempo.
As saudades têm explodido, mas vão se dissipando,
Um pouquinho a cada dia.
O homem cuida que nenhum mal suceda às crianças.
A mulher ocupa todas as lembranças do marido.
O homem enterra-se nas necessidades dos meninos
E, em seu ofício, como quem se refugia
Mas, às vezes, chora baixinho, a sós.
A mulher nada sente e de nada sabe
Que os mortos perdem essas aptidões.
As crianças estudam seus estudos
E sentem falta de vivos e de mortos ou não.
O homem continua sua vida
Pensando que vai acabar, a curto prazo.
A mulher já acabou.
As crianças não se preocupam com sua eternidade.
O homem ignora sua fisiologia.
A mulher ignora tudo.
As crianças ignoram o que lhes ensinaram.
Mais tarde, o homem vai acabar acabando
Quando pensava que não acabaria mais.
A mulher tornou-se um esqueleto inumado
Por isso fora do alcance das vistas.
E as crianças... Ora, as crianças crescerão
Com suas memórias por dentro.


NÃO TER SIDO

A cada encontro nosso,
Desses de agora, efêmeros e ocasionais,
Não consigo deixar de lembrar
As coisas que não aconteceram conosco
As carícias que não nos fizemos
Os momentos que não aproveitamos
(apesar de sôfregos que estávamos)
e os beijos que não nos demos.
Foram horas inteiras que gastamos
Em reuniões, em comícios,
Quando poderíamos ter começado alguma coisa
Em um passeio
Enquanto os outros falassem ou se movessem.
E a oferenda despercebida de sua intimidade
A título de despedida
Naquela manhã clara e fresca
Em que ficamos a escolher palavras
Para esconder nosso desejo
E conseguimos adiar para nunca
Nosso compromisso de afeto e cumplicidade?
Ou, quando eu voltei de viagem e, de regalo,
Trouxe-lhe um cinto tunisiano, multicor
E lhe pedi que o colocasse
Como única indumentária, depois do banho,
Defronte a um grande espelho
Que lhe revelasse o todo de sua beleza?
Como é que deixamos passar essas coisas?
Essas coisas que podiam nos ter unido
Ávidos, espantados e deslumbrados,
Infinitamente?

OS FATOS

Às vezes, imagino (assustado)
O que teria sucedido
Se me tivessem pego em flagrante impedimento
No amor escondido
No namoro proibido
Ou mesmo
Se eu tivesse investido
Ao invés de retido
Ou fugido
E não prosseguido.
São muitas as possibilidades
Nesse caminho de rato da história de cada um.
Mas o que conta mesmo
São os fatos.
O que se deu,
A realidade única e passada.

in Prosa em Versos, edição do autor, 2000.

GRACIA LEVINE

LINGUAGEM

Qual é a sua língua materna?
Mas que mais você fala, além dela?
E a terceira, onde você a aprendeu?
Em que língua você sonha,
em qual você fala?
E quando reza?
Em que língua você canta?
E quando faz conta?
Quando faz amor,
você pensa?
E em qual sussurra?

O ESTRANGEIRO

Em casa
falando as mesmas línguas
desvendarás meus segredos
decifrarás códigos
– cada número, outro idioma.

Amores descobrirás
– diários, cartas, cartões –
e o que meus pais me revelaram.

Lerás meus livros
e aqueles poemas
para ninguém.

SEM TÍTULO

Vida curta,
vida longa.
Qual deve ser o comprimento de uma vida?
O de um barbante?
O de uma fita métrica?
Tão comprida como esta sala?
Ou tão curta como uma sepultura?


GLENDA MAIER

PERDÃO
Para o Beijoqueiro

70 x 7 é a conta do perdão.
70 vezes apanhastes,
pois beijastes o amor.
Beijastes 70 x 7.
Se os beijos te condenam,
na soma dos beijos beijados
encontrarás o perdão.

Cinelândia, 25/09/2000


GUILHERME ZARVOS

ZAÍDE

Nunca pensei que amar fosse tão doce
que era coisa de velhinhos de abelha
no jardim dedicado por casais que
de mãos dadas dormem e jogam sorrisos
Pensava só no turbilhão e nas contas
do final do mês no ter que me transportar
no outro e que era disputa e nunca complacência
e cumplicidade e nunca criação
Até que chegou o momento. Veio quieto
Era final de uma noite sem vento na
Gávea. Lembro-me da hora da cor da
recém aurora das roupas do que tomamos
acho que de cada palavra
Agora que vejo o corpo mais frágil –
meus rins doem – e a cadeira que
ganhei no dia dos namorados dá uma tremenda
alegria (como é confortável), posso
garantir que amar é tão doce que as abelhas
não se enjoam de parir potes de favos. Eu
no jardim, de mãos dadas, de cabelos tão brancos


MAISA

Escreverei um monte de cartas, em número maior que o
do programa da TV, de todas as cores e modelos, em tons
pastéis, pois é assim que me sinto, rindo à toa, pensando em
você por bobeira, retornando à sua nuca ao seu perfume e
imaginando bando de cartas azuis verdes rosas, muitas
rosas, de todos os cheiros, e que você abra e sorria com
cada brincadeira de amor que eu puder ser ainda mais
repetitivo. Nada mais leve do que o início, o sem
compromisso, que não seja enviar 365 cartas, ou mesmo
bilhetinhos, em papéis preenchidos de gentilezas. Eu sou
um amante antigo ou tímido ou típico pois esse estado tão
primitivo, o dos primeiros toques, o do reconhecimento,
me deixa sonhando safadas peraltices. É tempo, ainda, da
vontade incontida das palmas das mãos serem cobertas
pelas suas. Do coração acelerar, pois vou lhe convidar para
jantar. É tempo de cartas e bilhetinhos, e por enquanto vai
este, no meio de 365 sinais que sou um animal comum e
esta obsessão é o cio.


STELLA

Eu não estava acostumado com a felicidade
Ela transborda ou me assalta como o carinho de uma niña
A fita do vestido do colégio de freiras, bem asseada
– o vestido era de tergal azul-marinho ou era cinza -
e a camisa com escudo bordado branca: todo dia mudada e
os sapatos de lacinho – pretos, que brilho! e os cabelos
que vinham à cintura e as meias soquetes dobradas e
o resto do corpo que cresceu. Ainda não posso acreditar
que hoje a tenho nas mãos e amanhã não me faltará.

in Mais Tragédia Burguesa, Ed. 7 Letras, 1998.


JOÃO DE ABREU BORGES

EN THEOS

rudes pedaços de pau
arremessos de chão
estilhaços de caos
minúcias de oração

canção à toa, entre tantas
vão entre mim e eu
recomeço do pão
sobrenome da ilusão

o avesso do fogaréu
início da imensidão

como princípio de sol
fogueira íntima
príncipes do sal
ardendo a crina

cavalos de fogo
esteira de vento
intervalos alados
entre mim e fim

o fósforo do aviso
atenção, somos sãos


NINHO DE MOINHOS

Sei que o que agora escrevo não valerá teu cansaço.
O cansaço dos deuses é diferente:
Sentem-se confiantes demais diante dos desafios.

Sei também que poderão me chamar de idiota
Por confiar demais em deuses diferentes.

Sei também que poderão me chamar de idiota
Por confiar demais em deuses indecentes.

Mas... Diana, eu creio em Ti!
Creio que os teus dias serão eternamente verdes,
E é isso que me inspira.

A cor para os deuses é diferente:
Tem um ar que não se respira,
Alguma coisa que não sabe em si.

Sei também que poderão me chamar de Chico Mendes
Por ter olhos, boca e, mesmo assim, perdoar...

Mas os dias não foram feitos só para os pássaros:
A luz também desce ao chão
E brilha como bela bailarina na frente dos homens.

O dia nos envia uma canção pelo vento
Para que os outros dias sejam teus
Como ainda hoje são,

Embora as queimadas calem tua alma de susto
E alguns rios sequem tua saliva em silêncio
E você, Diana, não seja mais um fator de equilíbrio
Para um império como o norte-americano.

TRÊS CÁLICES NA NOITE

Eram cabeludos e barbudos
Todos os três enlameados por um Menino do Deserto.
Eram bárbaros e andavam sobre camelos.
– Ora – direis – seguir Estrelas!

Veneráveis pastores de um santo Espantalho.
Pêndulos da alma de um embrião,
Vindos, ninguém sabia de que Olhos,
Caindo, ninguém previa de que Mãos.

Eram desnudos, suados e felizes,
Carnudos ossos sem frio e sem medo
Com os pés gemendo com as raízes.

Eram estranhos e, contudo,
Confirmaram o sêmen andando sobre a terra,
E ainda perdoando pensamentos e vozes.

O que bebiam?
O que fumavam?
O que comiam?
O que cheiravam?

Anjos da terra caídos sobre o céu,
Vértices do Homem,
Sonho do que viria depois,
Luz no silêncio de Cristo:
Nossos reis, nossos cais!

Manto súbito na longa noite dos Magos!


JORGE VENTURA

VAMPIROS URBANOS

Do castelo do meu quarto,
subo meu olhar para uma mulher encantada,
presa enfeitiçada que me enfeitiçou de surpresa.
Sedução não me mata, sedução só me morde e machuca.
É quando o relógio da estante, no instante da meia-noite,
Rompe o silêncio mágico das primeiras carícias.

Agora, de momento, tudo parece confuso, obtuso...
A grande capa escura, esta, que me cobriu!
Descobriu-me indefeso, teso, com medo, sim!
Sinto assim meu corpo gelado, carente de vinho,
um filhote sem ninho, perdido, querendo saciar...
numa Transilvânia metropolitana!...

Baixo meu olhar para uma cidade possuída/desconstruída
pela inveja, pelo ódio e egoísmo de vampiros urbanos,
que sugam toda a minha energia/dissimulados amigos
competem comigo/desejam-me o sucesso e o dinheiro,
até meu segredo, que jamais revelei a mim em particular,
querem saber de concreto, feito vergalhão e andaime!

De volta ao castelo do meu quarto,
deixo minh’alma perfurada e a vida cansada,
o que me resta, réstias? Minha sina é um coração fincado
com as veias entupidas por um sangue viciado.
Eu durmo e envelheço, amanheço só!
Eu durmo e envelheço, amanheço pó!

ESPELHOS QUEBRADOS

Choro d’olho, pingo d’água,
minha mágoa é cristalina, menina...
Viro o espelho, vejo nós... dois lados de agir,
viro o espelho, vejo nós... dois lados de amar,
frente e verso, de frente ao adverso.

Você, que já foi a minha cara-metade,
minha face-irmã,
me fale agora toda a nossa verdade
com palavra fácil, com palavra vã.

Choro d’água, pingo d’olho,
minha menina é cristalina mágoa...
No rebrilho de espelhos quebrados!
E quando espelhos se quebram...
Atitudes cortantes ferem sentimento,
ficamos sem reflexo – sexo sem nexo.

LAMENTO CAIPIRA

Eh, meu boi!
Vambora ruminar noutro pasto,
quieu mais ocê samo mais vasto
quiesse mundão de cão!
Vamo proutra terra, com paz pra prantar,
proutro mar qui não dá pra afogá,
proutra lua qui o ôme inda não pisô!
Larga dessa flô, meu boi!
Nós merece quermesse,
não rodeio de coroné!
Nós não quer mais rapadura,
nós quer água pura da fonte,
licença pra atravessá a ponte,
quem é qui vai, quem é qui foi,
quem leva ieu e ocê, meu boi?
Caipira do sul, caipira do norte,
Minas, centro e Nordeste,
se avexe não, meu boi,
caipira do Brasil é um só!
Antes do sertão virá mar,
nós chega lá! Nós chega lá!

NHANHÃ DE NHENHENHÉM

É manhã
Na cidadezinha de Nhanhã.
Nhanhã cansou-se de nhenhenhém com o Nhapim.
Nhapim, um robusto nhapango (dos “bão”!),
Danou-se a ouvir os suspiros de Nhanhã:
– Nhor não, nhor sim! – Nhor sim, nhor não!
Nhanhã, tantã de tanto nhenhenhém, nem viu um inhambuí,
Imbuído de nhambu, ciscar o pé do nhapim.
De tanto nhenhenhém, hum, hum...
Exalou-se a inhaca do nhapim...
Ou terá sido a do inhambuí?
Hum... ou mesmo a de nhanhã?
Inhaca de tanto nhenhenhém?...
Eu, hein?

in Turbilhão de Símbolos, Imprimatur, 2000.


JOSÉ CARLOS GUEDES

ATREVIMENTO

Por onde passeia
o pensamento da moça nua
deitada no chão da sala?
Quem convidou a lua
a espiá-la,
pela janela escancarada?
Com que decoro
derrama sobre seu corpo branco,
seu véu de luar?
Com que intimidade
toca o luar seus poros,
eriçando seus pêlos sedentos?
Quem colocou ao fundo
essa sonata de Bach?

EQUILÍBRIO

Ah! Via da vida
que me desafia.
Ah! Tempo que me chama
para o calor, o fogo, a chama.
Quisera ter o dom
de musicar a vida nesse tom.
Quisera não desafinar
não me sobrepor
nem me definhar.
Quisera no meio da praça
sentir pulsar o sangue
sem o esconderijo
do castelo ou do mangue.
Quisera partilhar
contigo, mulher amada
e te sentir, assim como eu,
desarmada.

As calçadas de Ipanema

As moças passeiam
pelas calçadas de Ipanema:
as brancas, as pretas, as pardas,
as pudicas, as safadas.

As correspondidas, as traídas,
as que traem,
as que ainda não
e as que nunca trairão.

As mal amadas,
as bem amadas,
as virgens, as defloradas.

Moças de todos os matizes,
felizes e infelizes.
Moças de todos os cantos
com poucos e muitos encantos.

É simpático.
É democrático.

Quando quero namorar,
vou às calçadas de Ipanema.

Com todo cuidado,
com todo recato,
escolho uma a dedo,
dobro e guardo
no bolso de meus segredos.

Sento-me num bar,
de preferência à beira-mar,
onde ponho-me a namorar.
Namoro, namoro, namoro...
...até me embriagar.

MEMÓRIA

Os pedaços de sonho
que deixei pelo caminho,
são pegadas do meu destino.
Se me perco,
posso me reencontrar.


JUSTO D’ÁVILA

VER é ter alma feminina
As mães sabem a Verdade
Deixei de ser menino
quando entrei para casa dos homens
e vi a Realidade num ritual secreto
Me senti sincero como uma mulher
A alma do índio adulto prossegue verdadeira
como a dos meninos
Diferente dos homens cegos
do mundo civilizado pela bruteza de meninos maus
que não viram homens inteiros e ficam perdidos na ilusão.
Sou irmão das mulheres, como um veado
Adoro falar de cabelos e unhas e maquiagem
Deito no colo das bruxas, sem medo
Bruxa má não dá colo,
arde na fogueira do próprio poder
Todo feitiço tem o troco
Troco o meu com elas
O verdadeiro amor
só existe no incesto,
Antes de cegar-se, Édipo Viu toda a verdade
Amar é feminino
Me lanço à ilha das Amazonas ou de Lesbos
Disfarçado em véus em meio a haréns dos poderosos
Meu único pecado é ter
um PAU.



Fiz meus olhos frios
não sou criatura da noite
mas já não pertenço ao dia
estou no ciclo
faço parte da via
nas veias corre sangue quente
mas a forma é fria
na cabeça a porra quente
não interessa
não há pressa
em atitude serpente
de repente
surgem presas
e alimento vícios
ócios de ofídios
sem moral
com pureza do bem
e dignidade do mal


RUA VOLUNTÁRIOS

Carros carros carros
rua
carros carros carros
Rua
Voluntários
carros carros carros
eles não podem parar
não podem parar
não podem
não
não!
Carros carros carros
involuntários
fluxos urbanos
sub-urbanos
na Zona Sul
Zona Sol
Zona Só

Voluntários só
chora Voluntários
lágrimas e carros
carros carros carros
e na rua
voluntários da pátria morrem
morrem os negros olhos de tanto chorar.

E na madrugada
os carros passam poucos e rápido
quase chegam a parar...

Mas logo o Sol sobe a Voluntários
e descem novos carros,
carros, carros, carros,
Rua Voluntários,
volta a chorar...


FOME DE AMOR

Fome
Fome do que eu quero ser
Fome de mim
Fome de você
Fome
Todo mundo tem
Fome
Todo mundo se come
Mas não se acaba
A maldita
Fome
Pois também somos
Comida
Fome se paga
com a vida.


LAURA ESTEVES

SEM REFERÊNCIAS

Antigamente, o mundo era visível.
Antigamente, eu era sem dor.
Olhava ao redor e via.
Tão simples, meu Deus!
Era um tempo sem filosofia,
Poucas perguntas,
O mundo, binário:
Dia e noite,
Frio e calor,
Alegria e tristeza.
Era um tempo sem inquietação,
Sem incerteza.
Acordar, comer, brincar, dormir.
Quadrilátero perfeito.
Depois, tudo ficou cinza.
Tanta opções!
Caminhos e desvios.
Um mundo de lonjuras.
Abismos sem fim.
Tantas perguntas!
E o Livro dos Mandamentos,
Como eu, perdido para sempre
Em algum lugar do deserto,
Em algum tempo distante.
Pela poeira, encoberto.

SOFISMA

Mentir por uma boa causa
é nobre
ético
normal.
Mentir sempre que preciso
ao inquisidor
ao amante desprezado
ao doente terminal.
A verdade é uma só.
Mentiras, quantas eu queira.
Por que contar a verdade
e não a mentira verdadeira?


TANGO 1940 – UMA TRAGÉDIA SUBURBANA

No rádio, “Salão Grená”.
No quarto, a mulher nua.
Na cama, a colcha lilás.
No chuveiro, o amante.
No portão, o marido.

Na rua, a intriga dos vizinhos.
Na roda, o espanto das crianças.
No chão, a mulher caída.
Na varanda, o sangue do amante.
Na prisão, o traído.

LÚCIA NOBRE

A MERGULHADORA

Mergulho
te
debato
me
nas tuas prof
und
ez
a
s
Submerjo
Correntes atam
pedra nos pés
Renasço Orlando
Alto dourado
Louro cabelos
roçam ombros
Flores tatuam bíceps
Te penetro
Com sexo intumescido
Cedes à pressão do meu corpo
Jogo movimentos ritmados
da superfície
ao fundo
de tuas quentes
águas viscosas
Agora somos Orlandos
Futuristas
Homemulher


ÁRIA

Na Casa do Luar de Agosto
para a cerimônia do chá
você banhado de azul
eu em quimono
de cetim vermelho
Você é Jardel Filho
louro lindo
maquiagem oriental
Fora as cerejeiras em flor do Japão
Suas mãos cetim sobre cetim
abrem ágeis meu quimono
Meus peitinhos duros pulam
Vocês os chupa fruta
na polpa boca macia
Eu sou sua gueixa
As outras nos servem saquês
nos deleitam gostos
Me desnudo movimentos lascivos
Tranqüilo meu oriental
Beijos lentos loucos
trilham meu corpo todo
Eu sou Mme. Butterfly
Un bel dì vedremo
Você lambe minhas lágrimas
olhos nariz
Sussurros obscenos
Eu gemo choro desfaleço
Léguas línguas
chegam a meu umbigo
E além

ELUSKA

A mãe no CTI ela nos bares ligando orelhões correndo visitas gritando pra mãe na máquina pra voltar a mãe cada dia mais gelada ela nos bares velando quando acabou fez tudo muito discreto sem cerimônia cortejo logo voltou pro bar atrás das lágrimas viu os amigos chegarem depois partirem só ficou aquele a levou pra cama tocou-a manso lhe beijou o corpo num suave despertar deu vinho o que mais amava logo o desejo em dor não a fez vir à tona foi lá no profundo da cacimba escura no quintal a mãe chamando ela livre solta em Petrolina a louca no meio do capinzal o desejo se embrenhando na mata densa o sapo seria de celulóide verde água na esteira com outros companheiros o desejo voa quintal medo dos cocos na cabeça banho frio chupando água dos cabelos escondido gostoso sentada no vaso encantada nas árvores refletidas nas poças d’água do banheiro e longe muito mais longe que Deus que o inferno da infância o imenso nó na garganta engulho os seios da mãe a pele tenra seu cheiro doce o desejo soluços grunhidos perda e salvação.

in Floresta dos Leões, Urbana edições, 1993

ANATOMIA DE NADJA

Anelados
Rastros de marfim
Dedilham noites

Ardem desérticos
Lamentos Loucos
Olhos mouros

Sorrir menina
Fatal sedução
Pra fruta proibida

Sargaços conchas corais
Toda coisa marinha
Ornamentos da sereia

Ninho de alabastro
Onde a lascívia arfa
Em suaves ondas

Duas aves empinadas
Biquinhos ariscos
Voar luxúrias

Flocos de paina e seda
Exóticas essências
Inebriam a natureza

Sons selvagens
Desvarios de mel
Veuve Clicquot

In Saciedade dos Poetas Vivos, vol. XIII, Volúpia/Prazer, Editora Blocos, 1999


MARCELLO ROLLEMBERG


1º MOVIMENTO

I

Quinto andar, a janela abre-se para um dia que mal se esboçou. Lá fora, há um céu de Magritte. A luz entra sorrateira, tomando cada dobra do quarto como silencioso invasor. A moça dorme os últimos instantes antes da partida. Os braços lentamente se estendem num balé surdo, tocando um instrumento improvável. A música é o sono que acaba. De repente, as paredes se tingem de tons de verde, como os olhos da moça que desperta. Um roça de nuca nos lençóis, um travo de noite nos lábios e uma centena de horas a percorrer. O corpo inunda-se de sensações. Sem palavras, seus gestos ainda são tímidos. Mas têm fome. De tudo. Ao colocar os pés no chão, está acordada e pronta.

IV

Onde estás no momento do qual mais necessitas, no instante em que tudo se cobre de um azul-cobalto que não existe em nenhuma palheta? Prédios, carros, pessoas que passam apressadas, ruas, faróis. Todos azuis. Onde está no azulado do dia, no lusco-fusco do tempo, no dégradé de cansaços, quando o dia já foi e a noite ainda está por chegar? O azul persegue tua sombra, tornando-se azulada, também.
The lady sings the blues.
The lady sangra the blues.

2º MOVIMENTO

V

Após tanto tempo, talvez não tenhamos mais a simetria dos anjos, porém ganhamos a densidade dos seres. Temos a geminiana cumplicidade que a tudo suporta e compreende. Podemos ter perdido nossas asas, mas ainda sabemos voar.


3º MOVIMENTO

Quem ama, não sabe o que ama nem sabe por que ama, nem o que é amar.
Fernando Pessoa

I

Na curva do dia, pessoas passam e nos confundem. Te esperei por tanto tempo que já antecipo teu rosto, mesmo sem vê-lo. No mosaico de máscaras, descubro tua face refletida em outro olhar. Paralisado o momento, tocamo-nos, receosos, alisando nossas escamas, cobras trocando a pele. Mágicos, recriamos todos os atos, a areia fina do tempo escorrendo na ampulheta, sem mãos possíveis para retê-la. Xamãs sensitivos, ficamos atentos à nossa respiração sincopada. Não tememos as horas. Sentimos somente o aroma de alecrim que nos envolve.

4º MOVIMENTO

II

O céu cor de fogo impunha a tarde como um deus. Teus olhos côncavos brilhavam, a infinitude dos dedos tocando o que ainda está para ser descoberto. Formávamos uma curiosa figura de baralho, pólos opostos unidos pela ambigüidade dos nossos gestos.
Tântalo moderno, sentia fome e sede. A praga dos anos a me negar o encontro necessário.

IV

Somos únicos e, ao mesmo tempo, contemos as multidões de Whitman, contraditórios e serenos. Somos muitos e cabemos no espaço delimitado por nossas expectativas.
Seres imortais, planamos e observamos atentos com olhos garços de aves.
Do alto, o horizonte é tangência.

6º MOVIMENTO

I

Digo no escuro palavras que não tenho coragem de pronunciar pela manhã. Acaricio tuas costas e deixo meus dedos escorregarem até os limites do teu corpo, fingindo desatenção, enquanto memorizo tuas formas. Te deixo livre para agir, o tempo inerte nas paredes sem ponteiros.

in Encontros Necessários, Ateliê Editorial, 1997


MARCO MARTIRE


BEM DE CONSUMO

Amor, meu bem de consumo,
pra amar te comprei,
não menti, eu paguei.
Queria alguém, sem ninguém,
controle remoto pra mim.
Bem, imaginei tua nudez e te vesti,
Bem, silenciei e dei pra você meu sim.
Mas nossa cama insana,
derrama dizeres meus
que não saem da garganta.
Cuida de mim! Me ama assim!
Que bem bonito! Me rende sorrindo
e quase me engana.
Sei, você quer é me deixar,
contarei que é inútil,
quebrado, sem garantia,
vou fazer você voltar,
acreditar em mim
que só eu quero te gastar.
Afinal, no leilão dos bens, pro amor
sempre dei meu lance mais caro.
Te quero pra mim.
Consumirei meu bem até o fim.

POETA FELIZ
minha homenagem a João Cabral de Melo Neto

Dizem que o poeta é de todas as vias,
que o poeta vive a verdade um dia,
que a vida inteira o brinda a poesia.
Mas o poeta sacode tanto sofrer da pele,
água que o cachorro do pêlo arremessa,
quando pra viver se move,
que incomoda a gente se escreve.
Esquecem dele porque verdade,
gratidão sua, ele devolve.

SOBRE AMOR E LIBERDADE
dedicado à Mariana

O risco deste poeta é o amor,
ousadia do amor.
Sentimento liga do universo.
Não há caminhos fora amor,
nem ideologia fora amor,
nem sequer vontade há para luta
sem amor por liberdade.
Escuta amor!
Eu te quero! Eu te busco!
Dedico-te sonhos e noites
Intermináveis de loucura e febres,
tua história toma minha história,
compartilha meu corpo,
sobressalta o mundo inteiro,
descreve um risco de felicidade.
Arrisco o amor, é liberdade.
A liberdade arrisco, é o amor.
É uma balança louca
de desejos e necessidades.
Não peso e gozo as medidas
que inspiram meus lábios
como um beijo sem rima.
Amo e quero a liberdade!
Amo.



MARCUS VINICIUS


EXERCÍCIO PARA PÁSSAROS, QUANDO HOUVER


parte para o exílio das palavras e sombras
mas parte de si permanece como oferenda
imolando-se no silêncio indolor de um monge
até que as águas encharquem os dias exaustos,
afastem os fantasmas, arranquem as adagas
e afoguem no tempo o que não servir de semente

outra parte recolhe-se em latência e se cala,
busca nas rachaduras do muro a voz da fuga,
a fresta solar e a palavra agora enfim clara
sabe-se clandestino em qualquer itinerário
e segue poeira afora e a vida entreaberta

na gaveta, os pássaros se encontram ainda à espera

RECONSTITUIÇÃO ALEATÓRIA

Recolha com as redes os peixes de Bosch
recolha com os olhos a utopia, o arpão
traga-os delicadamente à areia, à costa
como se as mãos fossem no formato de vagas
a quem cabe reunir tanta dispersão

Arranque da guelra a dor sem sangue, sem pena
para que o peixe seja não mais o alimento
nem mesmo o exercício da morte, nem seu prêmio
mas um peixe sem o sacrilégio do anzol,
objeto insólito que jamais se arrepende

Deite o peixe sobre a mesa como se vivo
e em voz baixa lhe pergunte por outros mundos
para além de todas as navegações marítimas.

Vindo incógnito pelo ar da Terra do Nunca
o peixe se deixa domar nas mãos de Bosch
e enfim confessa segredos de água salobra


LAPSO

E se esvaziassem a paisagem fauve
e a febre bêbada dos girassóis

E se degolassem planos, poemas
e expusessem o silêncio nas praças

E se espalhassem minas pelos dias
e abolissem a noite para e vermos
em vigília a vida lenta se esvair

E se nos corpos nascessem escarpas
e nas janelas ervas, cogumelos

E se como num jogo de atirar facas
esquecêssemos a hora da mágica
e morrêssemos sem estampar surpresa

E se tudo não passasse de um lapso
de Deus?
(ou de sua infinita ausência?)


MARINA COLASANTI

PERSPECTIVA À NOITE

Na altura do quinto andar
uma traineira
vara o negro céu negro mar
saindo ao longe
por trás de uma quina de concreto.
Luz do mastro somente
traço invisível
estrela que cai na horizontal
com o ventre carregado de escamas.

ALÉM DA PERSIANA

Além da persiana do quarto
overde volume das folhas
que à luz se desenha rendado
que cresce na sombra
e à noite se aquieta.
Carvalho, em repouso.
Mas basta-me um gesto
girar de vareta na pona dos dedos
e as lâminas brancas se inclinam
cortando o carvalho em fatias.

Estrias de carvalho
paisagem mudada
marinha
pastagem
o verde deitado em longo horizonte
sem ser mais irmão de outro verde.

Girando a vareta outra vez
as lâminas tomas as lâminas
o branco se fecha no branco
escamas
couraça.

No quarto
o carvalho
deixou de existir.

Berkeley, 1998

QUANDO FOMOS A DELFOS

Eu estava encharcada de cortisona
quando fomos a Delfos
e o Dr. Zorus tinha dito
que não comesse carne.
Mas não vinha dos deuses
o interdito
e chegando no alto
entre ruínas
afundei os dentes de minh'alma
em carne de carneiro
aquela doce carne que balia
encosta abaixo
fendendo os montes
e entregando-me
ao longe
um mar exato e insondável
como as palavras do oráculo.


MESSODY BENOLIEL

PROPRIEDADE ABSOLUTA

Grandiosa é a vida:
expectativa
vontade indefinida
espera
ansiedade saudade
prazer dor
ânsias de amor...

E seja lá como for,
princípio meio e fim
nos pertencem.

Grandiosos,
na verdade, somos nós.

UM HELP

Sério mistério o pensar
no amanhã
se o hoje foi pequeno
abaixo as dimensões.
Quero sentimentos
sem regras e sem medidas.

Uma afeição a mais
um beijo a menos
não diminui a lucidez
de um poema
cujo tema, indefinido,
suplica por um happy end.

Porém, com uma
afeição a menos
e sem um beijo a mais,
só sei que fiquei sem mim.
E o fim desejado
não teve a menor chance.

CONQUISTAS

Em matéria de amor
fracassos também conquistei.
Um pensamento
uma vontade um desejo
por vezes interrompidos.

Amuletos simpatias despachos
nada muda o panorama:
outra te leva para a cama
e fico a ver navios.

Não sendo marinheira
aprendi a velejar em mar revolto
a segurar-me na vela
durante as tempestades.
Pudera, a bonança não veio
foi visitar outros mares.

Não pretendo desistir.
Soube de uma ilha deserta
onde poucas mulheres existem
onde irei conquistar
um irmão qualquer de Peri
e que jamais tenha visto Ceci.


MÔNICA TERRA

ÓDIO OCULTO

Danem-se os conceitos do mundo[ ! ]
Vou para a Amazônia, lá onde está o meu coração,
traduzir a água na poeira das horas,
ouvir o Uirapuru de Villa-Lobos
e qual esta lâmina que me corta os pulsos,
arrancar o ódio nos dentes
e repousar na terra úmida que cheira à vida oculta.

E tocar o ódio
e saborear o ódio
e transmutar o ódio

em fina seda, que, bordada pelas mãos de muitas mulheres,
reveste a alma gloriosa.


ELES SE AMAM

Eles se amam aos acordes da avenida,
ouvindo a gritaria dos que bailam [sob
nossos olhos o seu instinto.
A cidade lateja o belo fero,
pixotes heteros.
Um furo na mão, ardor da criação.
Paixões Visigodas em homeopáticas gotas de sangue.
Sucesso no jornal, empresarial.
Tommy mixado em site cinematográfico
combate as cenas em cena.

Eles se amam nas trincheiras das eleições
dos alienados ouvindo [rap.]
A cidade combate o bicho-papão.
Motocicletas, saltos de asa-delta na contramão.
Mergulho de gestos dançando no céu.
Gamei Vídeo Image Neo-Nazista Volátil. Mato!
Bill Gates em rede mundial discursa no mar [dos
internautas: [I have a dream!]

Eles se amam nas aeronaves americanas ouvindo
tupy guarany.
Biogenéticas malas-diretas se iluminam no espaço
das aflições universais – marketing.
Uma explosão, a lua em procriação.
Estatísticos políticos prevêem a queda do índice de ruborização, [perda de
memória, chips kbytes, tumor emoção.
Jack Welch receita poesia para aumentar a produtividade galáctica [no ano do
Ladrão.

Eles se amam. Por quê?

RIO DO MEU JANEIRO

Voa a vida na rodovia em Manguinhos,
onde encontro a sussurrante palavra,
presa na ação do verde que ruboriza
diante das vibrações das rodas no asfalto.

Me oxigeno de vocábulos,
verdes, vermelhos [amarillos;] cobrem-me de significados,
que varro, organizo, abraço e plena
me catequizo na quermesse dos estribilhos.

A poesia crônica carbônica me estereotipa.
São Paulo me espanta na Presidente Vargas.
O sol vasculha as manhãs entre prédios e crimes.

Rio do meu Janeiro que chega chovendo flor de pedra e poema.
Oxigena...
Oxigena...
Oxigena...


NEI LEANDRO DE CASTRO


RIO: O AMANHECER

Amanheces
como quem atravessou uma planície enluarada
nas artes de amar.
Dispersas os farrapos de nuvens dos teus morros
e começas a reinar na manhã das encostas,
nas enseadas, nos espelhos de prata das lagoas,
nos arcos das praias apontados contra o infinito.
Sob a luz meridiana do verão
tua beleza zomba do poema,
blasfema contra os hinos em teus louvor,
wonderful city, nido de ensueño y de luces.
Exibes uma sedução quase cruel em tuas formas,
em teus seios de açúcar e granito,
nas úmidas intimidades de tua baía,
nos teus lençóis manchados de amor à beira-mar.
Nada detém tua beleza e avanças sob o sol,
bela e sem pudor, em verdes, azuis,
e formas infinitamente nuas.

SAL E MEL

Vejo o teu corpo amanhecer para o amor
como uma flor recém-inaugurada.
Estás sob o verão e te inundas de carícias,
tuas mãos colhem nas réstias de sol
pequenos falos que vão te fecundar.
Quem há de perceber que nos teus seios
há pequenos tremores, como sóis em miniatura
em explosões sucessivas?
Tua boca deveria saudar os seres luminosos,
mas apenas sussurra e deseja sugar.
Os sargaços emaranhados do teu púbis
guardam o cheiro do âmbar, do almíscar, do amor
(odor que perturba e seduz um exército de mercenários)
e neles o meu desejo se debate.

POEMA DA LONGITUDE

O pássaro
não levanta vôo em vão.
Ele avalia na brisa imprecisa
o peso exato do seu coração
e só depois viaja, vai além
das nuvens de ouro,
de camuflado tesouros,
além dos cumulus nimbus,
no meio de todas as texturas do azul
que tingem a vertigem
de um ponto qualquer da longitude sul.

NUNCA

Eu nunca molhei os pés no regato
de uma aldeia grega onde Narciso se esvaiu.
Mas juntos lavaremos nossos espantos e nossos sexos
na água atormentada por ramos de narciso.
Eu nunca vi a sagração do outono
– ouro e ferro – desabando sobre o Olimpo.
Mas juntos roubaremos o fogo dos deuses
sob as primeiras formações de neve.
Eu nunca descobri a trilha das barracudas
que evoluem em linha reta para o acasalamento.
Mas juntos inventaremos novas águas
e o caminho mais perto entre duas suaves colisões.
Eu nunca vi o nascimento de uma estrela.
Mas juntos vamos colher um punhado de poeira cósmica
para banhar de ouro e azul os nossos corpos.
Eu nunca conheci a prostituta
que seduziu o sacerdote brâmane.
Mas juntos seduziremos a nós mesmos
sem remissão. Com remissão pelo amor.

in Diário íntimo da palavra, Editora 7 Letras


PEDRO TOSTES

POUT POURRI

Ontem a morte me visitou
Para ver se dessa vez me levava,
Mas eu, simplista que sou,
Mandei dizer que não estava.

***

Hoje, mas cedo, acordei de repente
E entendi o mistério do mundo,
Mas voltei a dormir e isto já passou.

***

Está vendo aquela pedra?
Ela já foi montanha.

***

No fundo, no fundo,
Mas no fundo mesmo,
Você acaba achando petróleo.

***

Sabe o que eu ia lhe dizer?
Acabei de esquecer,
Mas, acho que amo você.

***

Hai
Cai.
Eu não.

***

Mosquitos
Os quito
Agora

***

Tudo que termina
Deixa sempre um hiato.
Seria isso sina?
Ou seria então um fato?

OS BARQUINHOS

Ruas se tornaram rios
E das regras só restaram ruínas
Do barraco só ficou o barro
E da família só restou a menina

E, mesmo assim, ela
Faz barquinhos de papel
Com as fotos desbotadas
Dos que foram para o céu

E o barquinho, então, vai-se
Atrás de um porto de esperança
Descendo a rua, a ladeira,
Buscando a alma de criança

E o passado, então,
Vai embora atrás do barquinho,
Porque a alma da menina,
Chora por falta de carinho

Pode parecer loucura
Mas na alma da criança
Ainda reside a fé:
Após a tempestade, a bonança.

PONTO DE FUGA

Tracei um horizonte
Em que eu possa chegar
Mais perto que você
Mais longe que te amar

E fiz meu ponto de fuga
Bem no canto do teu olhar
Pra Ter a perspectiva
De que eu possa te encontrar

Um desenho em preto & branco
Me lembrou do triste fim
Foi borrado com memórias
Não podia ser assim

E, no fundo dégradé,
Um pôr do sol eu desenhei
Nas tonalidades cinza
Do amor que me lembrei

Mas eu sei que as paralelas
Nunca mais se encontrarão
Só desejos e mentiras:
Tudo isso é ilusão


CONDICIONAL

A vida é liberdade condicional:
Depende de amor, de dinheiro
De saúde, de esperança
De alegria e de felicidade

A vida é liberdade pela metade:
Não se fuma, não se bebe
Não se transa, não se diverte
Nem se ama mais em paz

A vida é quase liberdade:
O que não é ilegal, é imoral
Se não é imoral, faz mal
E se não faz mal, engorda

A vida é a prisão
Onde o poema ama e reclama
Seu direito de viver em paz

PÊ ESSE

Uma concavidade
Sem cavidade

É como um consenso
Sem senso

Um poeta
Sem amor
Não é poeta
É fingidor

(Mas as palavras se propagam com o mesmo ardor)

PS
Será este poema um artefato?
Ou será então arte de fato?

CARTA

Uma carta de amor
de quem escreve com paixão
– ou compaixão –
é sempre uma carta de amor

Em papel ou guardanapo
com rimas ou com dor
na alegria ou na tristeza
é uma carta de amor

Em suma, me diga
Não te disse? Não suma!

REGINA POUCHAIN

CRISTAL LÍQUIDO

skate língua
que sobe que sobe deslizando tendões
músculos distendidos
escorregando braços sobre linhas
tuas mãos ranhuras genéticas inclinações
geologia de tecidos primeiros
meus pés não conheciam teu rastro terreno
baldio quintal-floresta de ametistas arbustos
que miram pássaros
roucos violinos atonais
noite leguminosa noite enveredada
de celestes cabelos daltonismos
azul cobalto tórax
pintei entre espelhos duplos oxidados
angulosos ossos nuca
na barriga da tua mãe potência aristotélica
uma tales alquimia vir a ser me encantar um dia
noite suburbana
beijos gelados refrescos
beijos máximos centígrados
minha garganta mais funda
sulcos cidades perdidas
de templos em templos oásis
gotas do teu umbigo busca marroquina
inútil busca becos sujas peles carneiros
fedorentas medinas
trens da evasão
fuga deslira de meus 47 sustos
voz lunar prata meus ouvidos gigantescos
acústica de tímpanos finíssimos sussurros
língua que desce que desce poses breves
unhas arranhando reles rainha
sherazade tua


AGRESTE

vide vinil canto profano
cláudias nuas cardinales coros
lirismos lilases
toalhas de plástico colunas dóricas games
epicuro que me cura prazeres
urna grega keats em teus ouvidos hyperion
logocentrismos ecletismos claudicantes
retrô
calcinados sertões biozona mandacarus
calangos caatingas cabra da peste augusto
matraga maria bonita madeixas com
ceramidas


LINHA D’ÁGUA

Rascunhos desvarios numéricos recortes
Softy’s lenços do meu Pathos
Folhetos ricos concreções calcárias
Que me habitam flexíveis arcos
Triunfo teu empilhamento inclinado
Poligonal
Volumes orgânicos caixas onde te escondes
Primeiras quebras
Incisões que rasgam
Pan graphismos em minha pele
Nipo miniatura tua arte
Pirea aeterna que te quero
Astrolábios teus

PULVERIZE GRILL

Pulverize
Acidulante ácido cítrico
Caseinato lactato de cálcio
Pulverize
Pulverize
Café com pão pulverize
Arroz com passas farofa
Pulverize feijoada goiabada
Malto dextrina macarronada pulverize
Pulverize
Policarbonato cristal pulverize

Sorbato de potássio à milanesa
Pulverize saladas quindins sorvetes
Dióxido de silício salgados
Secos e molhados pulverize já
Pulverize já
Polissaturados rocamboles
Glutamato monossódico pulverize
Pulverize já
Pulverize já


GERGELIM

CBN
7 horas
rádio portátil plugs
biscoito integral senhas
com figuração terminal pêlos de arame
alfinete olhos vitral
meio dia viração multissilábica
febre de letras suportes inoperantes
sapore di sale deglutindo fenilanina
edulcorantes caseína sulfato ferroso
farelo de trigo extrato de ginseng


RENATO MOTTA


BELÉM

Linha reta...
Horizonte vertical...Cruzar a retilínea, Brasília-Belém para um norte desconhecido
Norteado por imagens abstratas do tecnológico VT
E ter o Brasil cruzando pela janela do ônibus durante 50 horas.
Cerrado cerrando n’alma minhas expectativas.
Encontrar Belém do Pará.

Belém, de calor constante das pessoas, do clima.
Esgoto cortando toda a cidade, nos bueiros e calçadas.
Odor, sabor, tudo emaranhado numa confusa conjunção de raças.
Cheiro de magia espalhada por toda a cidade.
Como um espaço ritual entre o negro e o índio.

Rio Amazônico e seus braços diversos
Guamá, Guará, guaraná...
Descanso do sol, cama da lua, o rio da grande cobra
que resguarda a cidade do mal.
Caldo de Tatacá, Vatapá, Peixada, Robalo.

Centro confuso, desordenado, brasileiro em essência.
Mercado para Ver-o-Peso, sucuri, pajés...
Porções, feitiços, paixões.
Um santo-profano presente.
Olho de boto, olhar de menino, me miram os adultos...
Salamandra, centopéia, bacuri,
cabacinha, jararaca, eu já vi.

Olha a cerveja, olha a cachaça, olha a farinha,
tem branca, amarela, é aqui freguês.
E aqui freguês me faço...
Cruzo a mata, mergulho no rio...Belém do Pará,
Jererê, música brega, pobreza, cerveja...
Me rendo aos gostos, provo de tudo pergunto por nada.
Grande e confuso...Volto embriagado na alma,
embriagado na Cerpa...
feliz por poder ver...
mais um cantinho do mosaico brasileiro...

GAVETAS

Quando o tormento
Desejo Sagaz
Resolve vir
Vou às gavetas

Elas me esperam sorrindo
Toco sua alegria
E elas me revelam odores
Vida, amores

Mergulho nas cartas
Declarações, sonhos
A agonia nasce
E o choro nasce.

Mistura de amor e ternura

NOITE NA BAÍA

Em minha sexta feira, já finda,
lá pelos arredores de Niterói, solitária noite,
retorno,
já eram às duas.

Percebi que estava entrando ao contato íntimo com a cidade,
ao entrar naquela travessia da Baía de Guanabara.

Ahhhhh, Baía, da França, Antártica, do Reino Unido, de Algarves,
Baía do mar... no Rio de Janeiro... Ahhh, Baía de Guanabara...

Estática e dinâmica e manchada... manchada até a alma de histórias,
manchada de presente.

Manchada com: óleo, lixo, esgoto, sangue de escravos, com histórias..
Com suplícios, com alegrias, com cores e sabores da Baía de Guanabara.
E lá estava eu atravessando, com tudo isso na minha mente..

Naquela noite, onde a lua, brilhante e absoluta, iluminava-te, Guanabara.
Pude te ver, minha Dama da Noite,
que apesar de escarrada, mostrava todo seu brilho noturno...

...tão vaidosa Guanabara, que se enfeita toda noite
com seu colar de brilhante, reluzente ponte,
que me liga à possibilidade de admirá-la...
Baía de Guanabara, que insiste em me cativar por sua beleza.
Guanabara, de tão Guanabara, que não me canso de vê-la.

Sei que sou carioca no anseio,
sabendo que, bem na alma,
bem no centro do carioca,
tenho o Rio no meio...

RENATO REZENDE

A PERNA

Numa esquina perto da minha casa
vive uma mendiga
de perna amputada.
Tenho vontade de beijar
a perna que falta.
Acariciar
aquele pedaço de nada.

A mão dela está queimada
e parece que foi costurada
de volta ao braço.
Com essa mão ela pede esmola.

Hoje passei por lá
e vi que a perna dela
(a outra)
estava bronzeada.

Ela é loira, ela é moça, é a flor
da perna amputada.

Me deu vontade
de entrar em seu corpo
(fragmentado)
a meio metro da calçada.

Entrar em seu corpo e ser ela,
ser a perna que falta.
Ser a falta da perna dela.
Tive vontade de amar
e ser nada.

São Paulo, 6 de agosto 1992


FIN DU SIÈCLE

Estamos na Europa, en la campagne.
E somos dois homens num bosque.
Caminhamos.

Na clareira perto de um riacho
encontramos
as flores mais lindas
(minúsculas, amarelinhas!)

O quê fazer?

a) colhê-las para um bouquet
b) fotografá-las como um japonês
c) deixá-las em paz (o meio ambiente!)


None of the above:
Passamos por cima, normal
silenciosamente.

França, verão 1988 – Nova York, 7 de março 1996


O ELO PERDIDO


Porque eu sabia que havia um poema escondido ali
li um artigo inteiro no National Geographic
sobre arqueologia.
Na Etiópia, ingleses e nativos
descobriram ainda mais antigos restos de hominídeos
que os famosos vestígios de Lucy.
Dentes
e ossos de um indivíduo, que certamente
não se considerava indivíduo, mas vagamente
sentia ser parte indivisível de um todo.
Talvez esse sentimento seja o elo perdido.

Nova York, 3 de março 1996


RICARDO RUIZ

SER NOTURNO
Ao meu amigo Marquinho Santanna

Sou um ser noturno,
Na madrugada a viver.
Aguardo o momento oportuno
Pra atacar a Vampira!

E, nessa hora, a Vampira pira
Só de sentir meu olhar!
Ela sabe que agora é o momento...

De nossas pernas entrelaçar,
De nossas pernas enroscar.

Sem promessa e sem compromisso,
Curtimos a madrugada
Praticamos sem nenhuma pressa
Uma compressa copérnica!

Nossas pernas voam,
Braços e bocas se apertam.
A Vampira que pira é esperta...!

Antes de o Sol nascer,
Me suga todo o esperma!

Cosme Velho, janeiro de 2000


RIO LIBIDO
Para Suely Farhi

Acordo mais cedo
Só pra ver em segredo
Seu corpo adormecido.

Desnudo-o do tecido
Aproveito e beijo a Pedra Bonita.

Seu corpo é meu Rio!

Por ele passeio e manuseio
Afago e me afogo
Nessa labareda
De magia e libido.

Seu corpo é meu Rio!

Bebo na Cascatinha
Mergulho na Prainha
Descanso no Recreio.

Chupo seus morros
Como se fossem sorvete.

Seu corpo é meu Rio!
Você é minha Garota de Ipanema!

Cheiro as Laranjeiras
Corro nas Paineiras
Rodopio em Mangueira
Bailo na gafieira.

O Rio pode não ter vulcão
Mas sua lava me lava
Me aquece e enlouquece.

Pode não ter terremoto
Mas se nossos corpos atritam
Tramam e tremem
Entroncam e trocam:
Trutas e frutas
Trilhos e trilhas
Tropas e tretas.

Teu corpo é meu Rio!
Rio Libido!
Rio Labareda!
Rio Guerrilha Urbana!

Cosme Velho, março de 2000

ILHAS
Para Cecília

Ilha
Porção de terra
Cercada de água
Por todos os lados.

Biquíni
Pedaço de pano
Cercado de mulheres
Por todos os lados.

Mulher
Pedaço de pele
Cercada de homens
Por todos os lados.

Ilha sem água: montanha!
Mulher sem biquíni: bacana!

Atrás da ilha: nuvem
Atrás do biquíni: penugem.

Dentro da ilha: florestas
Dentro do biquíni: frestas.

Ilha redonda, o barco ronda.
Mulher sossegada, boa irrigada.

Ilha Comprida com muita brisa,
Mulher crescida de bem com a vida.

Ilha Rasa, o sol abrasa.
Mulher quente, homem contente.

Ilha do Farol, ilumina o atol.
Mulher estrela, o homem que vê-la.

Pra merecer a ilha,
Bom Navegante!
Pra merecer a mulher,
Homem Interessante!

Cosme Velho, julho de 2000


RICARDO VIEIRA LIMA

AO GRAVE SENHOR DE ÓCULOS

– Vim pedir a mãe da sua filha em casamento – anunciou
o rapaz ao grave senhor de óculos.
– Tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor
não pode mais dar: juventude, beleza, segurança e paixão.
Tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor
nunca pôde dar: mente aberta, conforto total,
variedade e satisfação sexual.
Não tenho a oferecer a ela tudo o que o senhor
está farto de dar: rotina, tédio, aborrecimento
e as velhas queixas da idade.
Por isso mesmo, aceite meus argumentos
e me dê a mãe da sua filha em casamento.

GUERRILHA NOTURNA
(um poeta sucumbe ao leito)

Versos feitos ou de efeito,
são, na verdade, defeitos.
Infernam-me dentro do peito,
carrego-os, insatisfeito.
Metáforas do imperfeito,
precisam ser refeitos.
Mas penso: não há mais jeito.
Suspiro, desisto e deito.

JCMN

Em poesia, toda morte é prematura
Antonio Carlos Secchin

O morto não espera.
O morto não vigora.
Quando chega a sua hora,
renasce a grã quimera.

O morto não pondera
e nunca se demora.
Depois que o jogam fora,
termina a sua era.

O morto é absorto
e o mundo é absurdo.
O luto é a paz do morto
e o seu tempo é mudo.

Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999


RONALDO WERNECK

DE CÉU E NUVEM
Poesia é falar sozinho
Mário Quintana


pois é
do ocaso
de céu e nuvem
caída do acaso
vem
sem véu
vem
nuvem
pois é
nuvem
peso
pó poesia
pois é um vôo em vão que se desvela
e resvala
sentinela
inconstante
coisa
de momento
coisa
que cala
pois é
antes
poesia
um cantar pra dentro
um falar sozinho
coisa
que passa

fumaça
passarinho
coisa
que passa
que não se liga
mas cala baixinho
e fala
e fica
in Tempos de Mineração, 1998

ESSE MOÇO
Feroz a um breve contato,
à segunda vista, seco,
à terceira lhano,
dir-se-ia que ele tem medo
de ser, fatalmente, humano.
Carlos Drummond de Andrade


um pouco à maneira e para
maria do carmo ferreira



do sexo masculino
uma pessoa
por todos prezada
um bom menino
se apresenta
esquivo
sem bossa
a quem interessar possa

só sozinho
entre todos
um mistério
um troço
um caso sério
o desse moço

amar
ama
na rua
no mar
na cama

amar
ama
oferta seu corpo
a meninas
e mulheres-dama

amar
ama


mesmo fora
da cama
tão de dentro
tão fundo
como se gemendo
envolvesse o mundo

tudo e todos
saltam do peito
do mais profundo poço
dando forma e fundo
a esse moço

pássaros neutrônicos
elefantes levíssimos
patinetes em pânico
balões de neon
nada igual

pipas ensandecidas
bolas de gude
num vôo orbital

entre eros e tanatos
decepado
entre fobos e deimos
largado

ao mar
por mala sorte
habitado

nau
do ocaso
vau
frágil
vendaval
em vão

duro osso
esse moço.


in Preto Nu Branco, inédito


MALCOLM LOWRY’S SEARCH
para jair ferreira dos santos


página

pound
choice
dante
shakespeare
joyce
vida-amor-estante


shakespeare-pound ou joyce-dante?
vida que mata e mantém vivo
nunca verás em qualquer livro
no pó da página-instante

no pé de página-estante
jamais lerás em qualquer livro
shakespeare-pound ou joyce-dante:
ardor que mata e mantém vivo

amor que mata e mantém vivo
nunca terás em qualquer livro:
no pó da página-estante
shakespeare-pound ou joyce-dante

in de Tempos de Mineração, 1992


ROSA BORN

OS CUSTOS DO AMOR

Amar custa caro
Custa a chegada
E a partida
O sono e a fome
As horas de espera
O telefone
Libras e libras de carne
Amar custa sempre
o que a gente
não tem para dar.

CAIXA PRETA

Em cada qual uma caixa preta:
mãe, roteiro e mistério.
Nos achares e perderes primevos
o cadafalso, a pedra angular
e as cismas derradeiras
levadas a sério.
De súbito, do mistério do roteiro
salta da lembrança materna,
o barulho do existente cotidiano.
Não se sabe se é
a negação da comum miséria
ou o sem consistência
encobrindo o segredo do objeto.
Quando revelado o mistério,
há nada.
Falta a fala, cai o ideal,
abissal a convicção.
Só este nada há,
nas histórias
que sem esses enganos,
não se pode contar.

RECEITA DE DOR

Mergulhe as lendas pessoais,
em meia colher de sopa de mágoa morna.
Despeje um pacote de desatino
em duas medidas cheias de lamento.
Entorne o caldo do destino
e mantenha os antolhos em banho-maria.
Frite, à parte, a delicadeza da alma, em fatias pequenas.
Desfie um rosário inteiro
de queixas do dia-a-dia ou outras penas
e mexa em fogo lento, com cara de pau.
Reserve uma taça de talento pra preguiça.
Adicione, a gosto, algumas gotas de maldade.
Deixe a atenção pelos amigos na geladeira
por muitas horas e derreta a novidade.
Lave, com água fria, um molho de alegria,
em forma de glória.
Bata, às claras, no desejo até o ponto de suspiro.
Despeje com impaciência
no é hoje que eu piro ou fico pior.
Faça pequenos rolos por nada,
num prato de mesmice refinada.
Leve ao forno baixo, no seu corpo untado,
por tempo demasiado.
Sirva em potes de raiva quente.
Rendimento: mil porções de maus bocados.


SONETO MAL NASCIDO

Ontem escrevi um soneto.
Sofrido, desmedido, queixoso.
Também pudera, coitado!
Neto primevo de um poema
cheio de problemas com seus ocasos,
sem talento para as revoluções.
O pai, um haicai preguiçoso,
fez da contemplação, sina:
síntese de muita sabedoria
isenta de qualquer ação.
A mãe, uma ode desvairada
adotou por rima, versos floreados:
perua de fazer gosto
aos olhos e ouvidos dos incautos.
A fada da inspiração, sempre atolada,
esqueceu do novo rebento,
nem passou perto do temporão.
Meu soneto nasceu assim,
pequeno, acanhado, avesso.
Só me resta reconhecê-lo, pedir perdão
e deixá-lo eternamente no berço.


ROSÁLIA MILSZTAJN

NO AZUL

Minha mãe
Era a mulher
Mais bonita do bairro.
Ela passava
E a sombra azul dos olhos
Tornava céu Madureira.
A estação do trem tremia
As grades continham
Gemidos dos que ali
Amontoados se espremiam
Para ver o olhar
Em horizonte daquela mulher.
Pequenas avenidas
Mudavam como festa
O sol em lustre de cristal
Brilhava enquanto
Cinderela passava.
Às vezes passava a escola
De samba, também
Bate-bolas, diabos
Morcegos enfeitados
Para a alegria
Eu tinha medo.
Tinha o natal
Tudo era presente
Encontro de felicidade.
Tinha o Natal de carne
Que controlava
O jogo de bichos
Era rico
Esse homem
Tinha um anel no mindinho
Resplandecia menos que
Minha mãe.
Eu era franzina
Portava um porta-seios
Soutien azul
Escondido na blusa
Ligeiramente aberta
Guardava no peito
A chama de ser como ela
Em azul
Explodir fulminante corações.
Essa energia
Tenho, escondo
Porque no espelho
Respondo:
Existe alguém mais bela.
Para onde dá esse
Azul dos teus olhos...

in No Azul, Imago, 1991

JÁ ME PERDI

Já me perdi não te apresses de novo nesta prece oca lobo
lábia mal vista fel tua boca é ferida fissura que abriste quando
disseste eu te amo lama
língua de fogo palavras lavras labaredas de mula
sem cabeça que fala
fala assombração rabo de lagartixa que
ato sem fato de ser se espicha
marionete de outrora que
me fez acreditar que eu aurora
amélia mulher
era de verdade
in Luminosidades, 7 Letras,1999

ENQUANTO

Enquanto como o arenque
na rua Mem de Sá
o sol bate na toalha branca
da mesa do restaurante
e no garfo a luz se espalha
e vejo os olhos da minha irmã
a duas quadras dali
meu pai morre no hospital espanhol
Enquanto ela come a batata
que acompanha o arenque
não sei se ela viu os meus olhos
eles caminharam até duas quadras dali
depois
mais duas três
Madureira
a infância
o trem que ia e vinha como o meu
pai o
restaurante o
arenque
e os olhos da minha irmã

in Luminosidades, 7 Letras,1999

ROSANE CARNEIRO

PEITO

Dou de peito
ao meu amor
para que ele leve de mim
toda a angústia

Que ele me sugue brando, certeiro,
tragando do meu corpo
minha alma ianque
matreira

Estou mãe
do meu amor
porque ele merece
beber de mim
a vida inteira


POMBO

Meu amor escorreu pela janela
formou poça ao vento
veio pombo, bebeu
voou pra longe
com ele dentro

No céu
imagino meu amor
em cada ave
que vejo

TRAVESSIA

Acordei para lavar a calçada
O sol me chamou para atravessar
a esquina
Andei andei andei
Até não tocar o chão
e não tocar em mais nada
Até passar por dentro das pessoas
das coisas, das armas

Atravessei

Só o sol encostava em mim
enquanto eu ventava

in Excesso, edição do autor, 1999.


SÉRGIO GERÔNIMO


MUNDO

mundo mundo vasto mundo
seria
se eu não o colocasse em minhas mãos
no teclado meus dedos agilizam
a conquista
a seta me leva onde a mão age
meu mundo ficou pequeno
a tela minimiza ou maximiza
a percepção
o apocalipse chegou
gritam os crédulos
eu quero é mais créditos no
ciberespaço
a memória-data determina
2000
a isto chegarás
disto não passarás
um novo totem
o novo Pentium
e o mundo mais vasto
ainda

AFRODITE SE QUISER

ela voltou ao estacionamento
pagou pra ver e viu
fez psiu, ganhou fiu-fius
e poderia ter tido todos os gatos
já que possuía o cetro
de incontestável soberana
como certo
passou a língua pelos lábios
foi brilhar naquele olimpo
concreto/flat sartreano
pois entendia que a existência
estava entre o nada e o ser
um quê burguesa, um quê operária
ouviu ao longe hey jude
seu espelho balada/mantra diabólico
quando no apogeu de apolo felino
desmaiou feminino, mortalmente
numa cena imortal do quarto ato
olhou pro lado, piscou um olho pro garçom
mas jurou por zeus ser apenas um cisco
jogou o cabelo pra trás leoninamente
calçou então suas botas cano longo
e agora de surrados blue jeans
stone washed
acenou do mirante do leblon
a uma esguia sombra feliniana
era ele...
ah! se afrodite quisesse
mas afrodite dita (sub)urbana
refez todo o percurso (in)verso
e se descobriu...
afrodite (sub)versiva
nos aparelhos domésticos
cosméticas ilusões

TRANSPOSIÇÃO

meu oblíquo olhar
tão rápido quanto minhas pernas
meu puro sangue avalia
hoje & sempre
lembro quentes areias
e densos bosques também
sinto no ar outras narinas
divago além dos obstáculos



SILVIO RIBEIRO DE CASTRO


PASSADO PRESENTE

Para mim é assunto obscuro.
Desde criança aguardo
chegar o futuro.


O futuro é um território desconhecido
e me angustia.
O presente é uma ficção:
quando chego a pensar nele,
já passou.
O passado é a única coisa
concreta que existe
na minha vida.
História que pode ser contada,
pesada, medida.
É por isso que, todos os dias,
retorno ao meu passado
para tentar reescrevê-lo,
poeticamente.


BRINCOS

Chegou, gostou, tomou posse
e foi embora apressado,
como uma ejaculação precoce.


Tantos anos guardei para lhe dar
o sonho mais feliz do meu cardápio
Não precisava me roubar
com mãos ágeis de larápio

Uma casa decorada com carinho
me pagou com falsas promessas
Comeu do meu pão, bebeu do meu vinho
sem ao menos disfarçar a pressa

Jogou fumaça nos meus olhos
em minha boca, mel de abelha
Me prometeu brincos
mas só furou minhas orelhas


E SE O BRASIL?

Guarda nos olhos tua floresta, Curumim
que o homem branco já vem te ensinar
o significado da palavra Fim.

E se o Brasil nunca tivesse
sido descoberto?
Se ainda andássemos livres
peito aberto
sorvendo o azul do céu
brisa da manhã
adorando o sol
e a cada noite vã
no calor da rede
a pele nua
adormecêssemos nos braços
de morena lua
ouvindo o vento
no arvoredo
sem sentir fome, sede
ou medo
Pau-brasil preso
a suas raízes
seríamos mais
felizes?


TANUSSI CARDOSO


AS MORTES

quando o primeiro amor morreu
eu disse: morri

quando meu pai se foi
coração descontrolado
eu disse: morri

quando as irmãs mortas
a tia morta
eu disse: morri

depois, a avó do Norte
os amigos da sorte
os primos perdidos
o pequinês, o siamês
morri, morri

estou vivo
a poesia pulsa
a natureza explode
o amor me beija na boca
um Deus insiste que sim

sei não
acho que só vou
morrer
depois de mim


CÁLICE
Para Glorinha, em memória

sossega. a paz é assim mesmo. inversa.
a lua que encontra todo dia seu outro lado.
o oposto de si e o igual. o gêmeo.
o espelho retorcido.
o bruxo. o adivinho. o enigma.
a face obscura da lucidez. véus. diadorim.
a iluminura do eterno. a visão do cego.
a luz. a luz. a luz.
a poesia exata que exala o lodo.
asas. anjos. o rosto do corpo.
o último galo da terra.

sossega. a paz é assim mesmo. diversa.
a mãe dizendo que a filha morreu. e não há mais saída.
o livro dos prazeres sem Clarice.
a roda da vida ao contrário.
versos desinventados.
a Mascarada que sorri. tão feia. tão linda. desarvorada.
unhas pintadas como leopardos. Ela – a Foice que ceifa.

sossega. a paz é assim mesmo. perversa.
pra bom entendedor nenhuma palavra.
basta.
neste momento nenhum pássaro é possível.
nenhum cheiro de fruta ácida. nenhum tudo.
nenhum invento de manhãs sem sono.
nem tardes mansas. nem noites mornas.
uma flor nascendo. somente.
um perdão sem medo.
um inverno caloroso.
qualquer humanidade.
qualquer deus.

dorme. a paz é assim mesmo. sossega.


AS TIME GOES BY

Meu bem
Me chama de Humphrey Bogart
Que eu te conto Casablanca
Me tira esse sobretudo
Sobretudo, conta tudo
Que eu te dou uma rosa branca
Mas, meu bem
Me chama de Humphrey Bogart
Te dou carona em meu carro
Chevrolet – que sou bacana
Te levo, meu bem, pra cama
Fumamos nossa bagana
Te provo que sou sacana
Te faço toda a denguice
Te dispo que nem a Ingrid
Te dou filhos de montão
Só pra te ver sufocar
Mas me chama de Humphrey Bogart
Faço chover colorido
Como num bom musical
Te chamo de Lauren Bacall
Te danço, te canto, te mostro
Entre as pernas meu bom astral
Te deixo pro enxoval
Meu chapéu preto de gângster
Mil poemas de ninar
Só pra te ouvir sussurrar
Como te amo meu Humphrey Bogart

TERESA DRUMMOND

CONFIDÊNCIA DRUMMONDIANA

Pelo Mato Dentro
o galope a mina a raiz
no veio do solo de ferro
tão fértil tão rico tão Minas

Entre os galhos da árvore
– sétima fruta –
contemplo o topo
o tronco
a terra de ferro
tão Minas

É que meu bisavô
o pai do meu bisavô
e os tios de meu bisavô
na história
reverberam do solo
semente e adubo

Por isso nas asas
de múltiplos pássaros
nasce Carlos
e a poesia

Mas é sina de ferro
ter a paisagem estuprada
e as antigas fachadas
entremeadas de hoje

Itabira
foi Itabira do Mato Dentro
e em poucas paredes
é fotografia
branco e preto
amarelada

E como dói

Dos escombros
reconstruo a fazenda
de boi e minério
E nem fui testemunha

Resta, Carlos
a desconstrução da rima
tão sua
moderna
funcionário público
e o rabisco da pena
drummondiando o epílogo
do verso
tão Minas

Itabira de julho de 1999


DES SUB MISSÃO

Ralando na boca
do fogo da cama...
tomando na cara
do sonho tolhido...
a mulher fez tricô
mastigando gengibre.

Mas sob o telhado nu da senzala
entre teias e traças
seu sonho carmim.

Não provoque a mulher
que não teve alforria!
Sob a veste tão fêmea
nessa dança do ventre
existe a fera
que cospe no prato
desatando o laço
p o r q u e é m ú l t i p l a

e não foi feita pra ralar cebola.


EXCITAÇÃO

O verso lambe a costela
a nuca
o ventre.

Deveria ter um homem ao lado
após os preâmbulos!

in cartão telefônico TELEMAR, série Figurativo Bizarro, 1/08/2000


THEREZA CHRISTINA ROCQUE DA MOTTA


AFRODITE

Redesenho
o sopro fácil e diurno:
dias antigos e alongados
em tua forma, hoje, de ser amado
– por que amado? – e ser tão difuso
quanto a retina de teus olhos.
Meu sonho, poeta, é minha sina,
pecado mortal, pecado carnal, pecado nenhum.

ARCO INCOMPLETO

As asas estão prontas. Temos sempre justificativa para cometer um crime. O céu está coberto. Em teu vôo, o movimento abruptamente interrompido. A noite esparge claridade. Em teu repouso, as asas estão partidas. Principiar a fuga, impossível. Teu gesto, circular, repetindo, incansavelmente, a perfeição de teu braço. O espaço redobra-se sobre teu peito. Teu rosto torna-se visível. O amor é suficiente.

CRISÁLIDA
La presencia sin nombre me rodea.
Octavio Paz

Escrever não é ofício: é miragem. Miro-te e alcanço-te como se fosse um fruto. Delicioso e ardente. Temos tempo regressivo. O futuro é uma abóbora. Imaginar-te, sempre instigante. Cresces como um gigante. Imagina qual o particípio irregular de arrebatar. Rapto. Tens dedos de feiticeiro. Tudo que tocas se incendeia. Vejo-me acesa com todos os fogos em explosão. E à medida que se queimam todos os troncos, deixam brasa, convertendo-se em cinza. Digo que tens o dom de queimar, tanto a superfície como o lago subterrâneo. Tenho-te dentro de mim como coisa que não se doma. Que se avoluma e toma forma. Não temo tua ausência, pois creio que jamais estarás ausente. Mitifico-te além vida. Sacralizo-te em mim. Assim amo sem saber, indisciplinada menina que zomba dos carinhos e faz deles coisas sublimes. Isto, como prova ou testemunho de que estamos aqui e vivos.

NÓS SOMOS MÚLTIPLOS

III

O grito é delírio.
Percebo que temos mais
do que jamais sonhamos.
Nossos corpos trafegam a trajetória do impossível.
Nossos sentidos estão embebidos em chá de camomila.
Loucura passional.
Corpo possuído por infinitas garras
saídas de um abismo.
Pira enfeitiçando
um poema que não termina.

in Joio & trigo, São Paulo, 1982


TOM REISS

TUDO

Quando tudo
Tava quase
Nada mal
Meio samba
“Meia sola”
...carnaval
Vi você
na virada
No salseiro
Não sei se maio
Junho ou fevereiro
Sei, é que gostei
...do molejo
Do gingado
Perna grossa
Rebolado
Gostei do que tinha visto
E do que tinha imaginado
E mais que repente
Tudo fica ardente
Abraço forte
Beijo quente
E um freqüente gosto
De quero mais
Eu que sempre dei nó
Em pingo d’água
No pesponto
Do babado
Acabei sendo amarrado

ÉTER

Poderoso vento,
único sabedor de meus mares,
qual pares de gaivotas,
mergulha em salgadas águas
e deflora a cada dia minh’alma,
que ora
sangra e geme,
ora teme e ama.

Poderosa onda
que invade meus corais,
fazendo os meus quintais
tua mesma moradia.
Vadia como gata,
que ora
mia e geme
ora teme e cria.

Circular redemoinho,
suga-me às profundezas
do teu leito ninho!
Com vinho rega-me
e nega a natureza do teu sumo,
que ora
fumo e bebo,
ora trago e como,
possuído em éter.
COBRA

Naja cobra
Entre galhos
Serpenteando sombras
à espera do bote.
Entre meus lábios
Deita-me a peçonha,
Sonha com volúpia
No ziguezaguear
Do teu corpo cobra.
Coral cobra
De corpo,
Espiralado ventre,
Repousar entre
Meus braços,
Laços de cicuta
E prazer cobra.
Jibóia cobra
D’água doce viva,
Esmagando em músculos,
Minúsculos fragmentos meus,
Digerindo-me
Torna-me cobra.

TÚLIO VILLAÇA



ODISSÉIA

Adonai / O senhor
Deus ex machina / Deus, por um artifício
Magister dixit / O mestre disse
Fiat lux! / Faça-se a luz!
Mehr Licht! / Mais luz!
Obscurum per obscurus / O obscuro pelo mais obscuro
Ab ovo / A partir do princípio
Ab absurdo / A partir do absurdo
Deo gratias! / Graças a Deus!

Ecce homo / Eis o homem
Vox clamantis in deserto / Voz clamando no deserto
E pur, si muove / E, no entanto, se move
In saecula saeculorun / Pelos séculos dos séculos
Fugit irreparabile tempus / Foge o tempo irreparável
Abyssus abysmus invoca / Abismos chamam abismos
Mors ultima ratio /A morte é o último argumento
Morituri te saludant /Os que vão morrer te saúdam

Gloria victis / Glória aos vencidos
Vae victis /Ai dos vencidos
Homo homini lúpus / O homem é o lobo do homem
Stultori infinitus est numerus / O número dos estúpidos é infinito
Time is money / Tempo é dinheiro
Eli, lamma sabachtani? / Senhor, por que me abandonaste?

Dies irae / O dia da ira
Delenda Cartago / Destrua Cartago
Se vis pacen, para bellun / Se queres paz, prepara-te para a guerra
Après moi, le déluge / Depois de mim, o dilúvio
Lasciate omni speranza, voi ch’entrate / Deixai toda esperança, vós que entrais

Consumatun est / Está consumado
Resquiescat in pace Descanse em paz
Vade retro! /Vá embora
Vade mecun /Vem comigo

Traduttore, traditore /Tradutores, traidores

ESTAÇÃO

Meu coração não está em paz.
E por que deveria estar?

Todo mundo tem todos os problemas do mundo para resolver.
O ônibus para Guapimirim via Magé sai em cinco minutos,
Mas o pessoal que vai comigo não chegou
– Eles sempre se atrasam –
E o próximo ônibus só às cinco e quarenta.

Todos os mundos têm mundos de problemas para resolver.
A Viação Luxor tem ônibus para
Seropédica, Ypiranga, Jardim Primavera,
São Francisco, Ana Clara, Piabetá,
Nova Campina, Campos Elíseos, Andorinhas.

Todos os problemas têm mundos para resolver.
Estamos hora e meia atrasados para Magé,
Vamos ter de pegar uma Besta.
É mais caro, mas já aprendi
Que o mundo se atrasa para se ajustar a nós.

Todo mundo em todos os mundos tem problemas para resolver.
E lá vamos nós pela Linha Vermelha
Entre lojas de móveis, postos de gasolina e motéis
Para cantar e dançar como se fosse a última vez
E como se o mundo dependesse disso.

Meu coração não deveria estar em paz.
Por que está?


PODER

Dispenso o rio
E, vestes secas,
Rio à margem.

Depois me arrependo
E me atiro n’água.

Dispenso a margem,
Mergulho fundo,
Rio de mim.

Entre duas margens,
Escolho a terceira.

Dispenso a mim
E, alma úmida,
Rio seco.

E sigo à nascente,
Ou remonto à foz.

Tanto faz.


VERONICA DIAZ

A MENINA

Deixei minha rica costa central
Atravessei países, cordilheiras
Cheguei ao Brasil.
Muito mais que sem querer
Contra a minha vontade vim.
Lá ficaram meus vulcões
Minha língua mãe
Meu sonho pacífico
Minha atlântica alegria.
Eu não entendia.
Aqui tinha o acento circunflexo,
A cobrinha era chamada til
Tio de quem, Deus meu ?
E uma professora que não entendia.
A estranha menina
Inundava incríveis redações
Com y ll ñ
E milhares de pontuações.
Como perguntar e reclamar
Se o sinal não vem antes,
É só no final ?
“Mas essa menina é um ET!”
Como sufri como lloré
Dios mio, todo al revés!
Anos estrangeira e a América Latina ainda arde.
No entanto, as voltas da vida, vejam vocês
Quando crescem as labaredas da minha alma
A estranha menina vem e me acalma
E baixinho me sopra versos em português.

UM DIA, PASÁRGADA

Só escrevo para colar
Pedaços perdidos de mim
Que a vida cuidou de espalhar.
Escrita superbonder
Versos auto-adesivos
Poesia durex.
Se algum dia
Eu estiver inteira, completa
Paro de escrever.
Deito quietinha
E aviso a Deus:
“Nunca fui predileta
Mas chame seus anjos, seus querubins
Trate de me levar.
Levei anos sofrendo
Arrumando a sua bagunça
Sem nunca entender seus fins.
No céu quero ser rainha:
Não prego um botão
Não faço uma bainha.
Não quero saber de problema
Cobrança, chateação.
Aí nas nuvens quero outro esquema:
Descansar é o meu único lema
E só saio da minha leseira
Prá dar bom-dia a Manuel Bandeira”
Ah, como vai ser bom!
Até lá vou escrevendo
Anoto isso também
Vai que eu me colo todinha
E não dá tempo de avisar ninguém.

LIMITE

Em cada poema estação
Uma página de mim
Em cada verso outono
Aos poucos me desfolho
Nua me revelo.
Mas não se iluda:
Depois de todos os incestos
Todos os abortos
Depois de todos os estupros
Todos os naufrágios
Raro é aquele
Que merece o convite
Para conhecer de perto
A minha celulite.


NOTAS BIOGRÁFICAS

1. Brasil Barreto nasceu em Recife, PE, em 1955 e radicou-se no Rio em 1962. Participou de vários movimentos culturais dos anos 70, (Geração do Mimeógrafo), publicou seus primeiros trabalhos de poesia em pequenas revistas alternativas, A Baga (1973), A Franga Poética (1977), Expressão (1978). Atuou na Feira de Poesia Independente na Cinelândia, 1979/80. Foi o organizador do Balcão Poético, nos anos 1982-1985, no teatro da C.E.U-RJ. Participou do 2º Festival Nacional de Poesia de Rua, em 1983 em Vitória. Participou das Segundas Urbanas, no C.C. Oduvaldo Vianna Filho (Castelinho do Flamengo). Foi o criador do projeto Tropicaos Maravilha de poesia e música na Concha Acústica da UERJ, em 1994. Participou da Expoética-Rio-96 em Botafogo. Participou de debates e recitais performáticos na II Feira Internacional do Livro de Salvador, em 1999. Publicou os livros Folhas Livres (76), Poesia Arte Tônica (83), A Cartola Mágica (92), Atmosfera (95), Farpas e Fagulhas (96), Estiva (98) e Vestígios do Tempo (2000). Atualmente é colaborador das revistas Cepa Poesia – Salvador, BA; Curupira, Niterói, RJ; Instantes, RJ e Urbana, RJ.

2. Cairo de Assis Trindade, poeta, autor de três livros de poesia (Poematemagia, Saca na Geral e Liberatura), organizou várias antologias de divulgação nacional, participou de outras tantas e também tem poemas traduzidos e publicados no Exterior. Como ator, atuou nas peças de teatro, Hair, D. Quixote, Hoje é Dia de Rock, O Arquiteto e o Imperador da Assíria, entre outras e, como autor, teve montadas duas: Verbenas de Seda, no Teatro Opinião e De como Raízes Transformam-se em Asas, em Porto Alegre. Em 1993, criou a Oficina de Literatura, lançando todos os anos um livro de poesia, crônica e conto, pela Gang Edições. Desde 1997, participa do Livro da Tribo (agenda poética editada em São Paulo). Coordena e apresenta, atualmente, o happy hour artístico Razão da Poesia, na Livraria e Editora Razão Cultural, em Copacabana.

3. Dalmo Saraiva nasceu no meio do mato em Angra dos Reis, RJ, em 30/09/1955. Formado em Educação Artística e Comunicação Social, mas a sua melhor escola é a própria vida e as viagens pelo Brasil adentro. Não se considera um poeta, mas apenas um aprendiz da poesia.

4. Delayne Brasil nasceu em Seropédica, RJ, no dia 1º de agosto. Cursou Letras pela UFRJ. Foi professora e revisora de textos. É funcionária do TRT do Rio de Janeiro. Participou das oficinas de poesia na Biblioteca Nacional e na Estação das Letras. Poeta e compositora, é integrante do Grupo Poesia Simplesmente que organiza o evento Terça ConVerso no Café e o 2º Festival Carioca de Poesia, no Teatro Gláucio Gill. Com o grupo publicou seu livro de estréia. O violão é parceiro fiel das suas composições musicais. Torce para o Flamengo e não é candidata a nada.

5. Denizis Trindade é facilitadora de Biodanza. Publicou dois livros de cartuns poéticos (Sessão Cabacinho e Book New Look) e tem textos publicados em várias antologias de poesia e conto e no Livro da Tribo, agenda poética publicada em São Paulo. Como atriz, além de apresentar performances poéticas, já fez teatro profissionalmente, comerciais para televisão e clipes musicais. No cinema, atuou no filme O Mundo a seus Pés, de Carlos Frederico. Faz parte da equipe organizadora do Festival Carioca de Poesia, junto com o grupo Poesia Simplesmente, do Rio de Janeiro, desde 1999.

6. Eduardo Guerreiro Brito Losso Poeta, ensaísta e professor de literatura, é mestrando em semiologia na área de ciência da literatura da UFRJ, participante do movimento CAOS, colaborando na revista .doc. Apresenta-se em vários eventos com um trabalho de fusão entre música e poesia intitulada OPEREMA. Possui vários ensaios publicados sobre literatura e as relações entre arte, cultura e subjetividade contemporânea.

7. Elaine Pauvolid nasceu em 19 de dezembro de 1970 no Rio de Janeiro. Formou-se em Psicologia, lançou seu primeiro livro de poesias em 1998: Brindei com mão serenata o sonho que tive durante minha noite-estrela... (Imprimatur/7 Letras). Em agosto deste ano, o livro foi relançado pela mesmo editora. Escreve resenhas e crônicas constantemente para os principais jornais do país. Organiza o evento de Cultura Sarau do João do Rio que ocorre toda quinta-feira, às 20 horas, na Rua do Catete, 144. Participou da organização do evento Saber de Verso na Livraria Ponte de Tábuas. Colabora com a revista virtual de cultura Agulha: www.agulha.cjb.net. Possui uma página no Jornal da Poesia do Soares Feitosa, também na Internet, site com que colabora fazendo ensaios sobre literatura e poesia. Cronista do Implemento Notici@l de Niterói.

8. Érico Braga Barbosa Lima, 1971, carioca, nascido e criado no Leblon, é formado em Engenharia Mecânica. Leitor de poesia desde os seis anos de idade (Eu, de Augusto dos Anjos, é, até hoje, seu livro de cabeceira) , leitor de ficção científica, filosofia, romance, é essencialmente, leitor e poeta, com publicações em antologias da PUC e da Unicamp, entre outras. Editor da revista de crítica literária Escrita desde 1995, Mestre em Literatura Brasileira, atualmente faz seu doutoramento na PUC-Rio, analisando a trajetória de leitura do vate e filósofo Tobias Barreto de Meneses. Músico e compositor, assumiu há dois anos a direção musical do grupo Poesia Simplesmente em apresentações poético-musicais por todo o Estado do Rio e, desde agosto de 1999, dos espetáculos das terças-feiras, o Café ConVerso, no Café do Teatro Gláucio Gill, em Copacabana.

9. Eugênia Loreti Sagitariana da geração de 50 e nascida em Porciúncula, RJ, começou um caminho ligado à poesia e ao teatro a partir de sua participação na antologia Abertura Poética (org. Walmir Ayala), em 75. Participou de vários grupos de poesia (Madame Suzy, Teatrote) e lançou o livro 3 Atos (poemas e continhos), em 1980, numa edição da autora. Escreveu ainda O Mistério do Bolo, Editora Arco da Velha, de 1983 e Coral das Ilhas (inédito), em 1985. Antologias? Várias: Mulheres (In)Verso, Nova Poesia Brasileira (org. Olga Savary) e Poemas Fora de Ordem.

10. Flavio Nascimento nasceu em Palmares, em Pernambuco, cidade do poeta Ascenso Ferreira e de Hermilo Borba Filho, criador do Teatro Popular do Recife. Aos dois anos, foi para João Pessoa, Paraíba. Aos 14, veio para o Rio, onde morou por quase 40 anos. Há cinco, reside em Friburgo, Lumiar. Fez graduação UERJ e mestrado na PUC-Rio, em Literatura Brasileira. É professor de primeiro grau do Município do Rio de Janeiro. Trabalha com Artes Cênicas. Faz parte da conhecida geração da Poesia Independente ou Alternativa, hoje denominada Performática ou Interativa. Apresenta-se como poeta-ator-clown em bares, associações e festas. Faz uma Poesia cênica, teatral, rítmica e musical que chama de Participativa. Editou um livro artesanal chamado Prova de Fogo.

11. Gilson Maurity: “Nasci em 1922 e tive a Medicina como profissão a vida toda. Comecei a escrever desde jovem. Mas uma exacerbada autocrítica impedia-me de publicar. Refiro-me sobretudo à poesia, porque trabalhos científicos eu publiquei uns 50. Aposentei-me e comecei a freqüentar ambientes de intelectuais e escritores. Aí descobriram que eu fazia poesia há muitos anos e estimularam-me a publicar meus poemas. Em 1996, fiz parte de um grupo que publicou Poetas do Jardim (o Jardim Botânico, nosso bairro). Em 1999, publiquei poemas que havia escrito entre 1960 e 1980, sob o título de Poemas de Ontem, Anteontem e Prosa Onírica. E, por fim, este ano lancei outro livro com poemas escritos entre 1980 e 2000, chamado Prosa em Versos. Por tudo isso, concluo que sou um poeta velho, porém recente.” Há quase um ano, coordena o evento Ponte de Versos, na Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico.

12. Glenda Maier é presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas do Estado do Rio de Janeiro). Professora, jornalista, socióloga. Publicou Poemas, Prosa Poética e Quase... Contos. Integrante do Jogral Poesia Plural.

13. Gracia Levine nasceu no Rio de Janeiro, é bacharel em Literatura Comparada pela Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook, 1976. No momento, estuda piano na Escola de Música Villa-Lobos. Publicou um poema na revista Soundings 1974, de Nova York. Publicou, recentemente, vários de seus poemas com o grupo Poesia Simplesmente, do qual é integrante.

14. Guilherme Zarvos nasceu em São Paulo, em 1957 e vive no Rio de Janeiro desde os dois anos de idade. Mestre em Ciências Sociais pelo IFCS, publicou seu primeiro romance, Beijo na Poeira, em 1990. Naquele mesmo ano participou da fundação do CEP 20.000, sendo editor da revista lançada em 1994. Publicou Nacos de Carne, 1992, Ensaio de Povo Novo, 1995, pela Ed. Francisco Alves e Mais Tragédia Burguesa, pela Ed. 7 Letras, em 98. O autor recita poesia e dirige teatro.

15. João de Abreu Borges nasceu em 28 de fevereiro de 1951 e viveu no Estácio, em Padre Miguel e na Penha (RJ). Década de 60: poemas políticos em circulação por baixo das pontes, pelos ralos, pelos cárceres do Rio de Janeiro. Década de 70: geração mimeógrafo, com poesias circulantes já na superfície, porém pelas esquinas, ladeiras e subúrbio. Década de 80: geração do livro em si, com prêmio João Scortecci – São Paulo (Moinhos de Suor) e Carlos Drummond de Andrade – Ministério da Educação e Cultura (Anticânticos). Década de 90: silêncio na língua, solidão no corpo e muito trabalho pela sobrevivência material. 2001: Jornal Panorama e revista Urbana. Poesia finalmente exposta publicamente sem os “ismos” da política ou estética oficiais.

16. Jorge Ventura, carioca, 37 anos. Ator, jornalista e publicitário. Trabalhou nos principais jornais do Rio, cobrindo política, artes e esportes. Publicou crônicas e diversos artigos em revistas especializadas no Rio e São Paulo. Há 13 anos é diretor de Criação da CM – Comunicação & Marketing. Lançou em 2000, pela Imprimatur, seu primeiro livro Turbilhão de Símbolos.

17. José Carlos Guedes nasceu em 22 de março de 1945, na cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro e mora em Ipanema (Rua Barão da Torre, 652 ap. 102 Ipanema – RJ Tel.: (21) 239-4353). É psicanalista (membro efetivo do Círculo Psicanalítico RJ) e foi diretor do Jornal de Psicanálise GRADIVA. Recebeu o Prêmio Ferreira Gullar (Jornal Poesia Viva) – 1º lugar em interpretação do poema: Atrevimento (Intérpretes: Jaime Leibovitch e Nahman Armony).

18. Justo D’Ávila nasceu Justo Marques da Silva Neto em São Luís do Maranhão, em 1966 e veio com um ano de idade para o Rio de Janeiro. Neto e filho de professoras de Português e Literatura, uma de 1900, outra, 1933, formou-se em Comunicação Social pela PUC-Rio em 1989. Antes, em 88, inaugurou, com outros poetas da faculdade, o Boato. Este grupo surgiu como Expoesia – uma exposição de poesia – depois usou a batucada, o teatro, o CEP 20000 (Centro de Experimentação Poética), depois os negativos de cinema e, depois, virou banda de rock, com shows em grande palcos e pontuais inserções na imprensa, rádio e TV. Tanto nos shows, como no CD Abracadabra (WEA/Dubas, 1988), Justo se manteve falando poesia e realizando suas performances como poeta. Durante o percurso artístico do Boato, atuou como ator com uma trupe de teatro, o grupo O Circo. Neste período, também trabalhou como repórter de TV, jornal e rádio, roteirista, produtor, redator publicitário e assessor de imprensa. Agora, sem a banda Boato, que voltou a ser uma entidade artística independente, o poeta prepara-se para lançar seu primeiro livro.

19. Laura Esteves nasceu e vive no Rio de Janeiro. A descendência portuguesa e a infância pobre vivida nos subúrbios marcaram fortemente sua poesia. A aldeia dos ancestrais, as festas, as histórias de assombração, os discursos do avô, as cantigas de roda, a eterna conversa das vizinhas, os loucos do lugar, a morte das crianças, o suicídio das mulheres são temas recorrentes em sua obra poética. Pertence ao grupo Poesia Simplesmente, que coordenou e realizou o I Festival Carioca de Poesia/Estação Arcoversos, em setembro de 1999, no Teatro Gláucio Gill, na Praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana. Seu primeiro livro de poesia, Transgressão, foi editado pela Editora 7 Letras, em 1997. O segundo, um romance memorialista, lançado em dezembro de 1998, O sabor, o saber e o sonho: a fome secular dos Oliveira, conta a saga da família desde a seca de 1877 aos dias de hoje. Como água que brota da fonte (Editora Barcarola) é seu terceiro livro individual.

20. Lúcia Nobre Nascida no Recife, Pernambuco, destaca-se na Literatura Erótica do novo milênio. Seus textos e poema “elegantemente excitantes” constam de várias antologia e colunas literárias. Publicou Folhetos Eróticos, Paris, 1988, Floresta dos Leões, Rio de Janeiro, 1994, Cartilha Erótica, Rio de Janeiro, 2000. Como jornalista, escreveu sobre sua vivência com os índios ianomâmis, Meus Queridos Inanomâmis, Purri-pô e Cartilha Ianomâmi. Foi co-editora da revista Urbana Poema Fanzine. Tem um livro infantil inédito, O Menino Rimador e outro de contos eróticos fantásticos, A Bela do Anuro.

21. Marcello Rollemberg nasceu em Niterói, Estado do Rio, em 1961. Jornalista, formado pela PUC-RJ e crítico literário, trabalhou em O Globo, Jornal do Brasil (Caderno Idéias), Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e Quatro Rodas, contribuindo ainda em outras publicações, entre elas a revista Cult. Atualmente é diretor de redação do Jornal da USP. Como poeta, publicou Ao Pé do Ouvido (1981), Coração Guerrilheiro (1983) e Encontros Necessários (1997), este pela Ateliê Editorial. Traduziu e organizou a coletânea Chá das Cinco com Aristóteles e outros artigos, de Oscar Wilde, Lacerda Editores, 1999. Este ano, lançou Quando Tínhamos Verbos, de citações de Eça de Queiroz, pela Ed. Record e Papel-Jornal, pela Ateliê, reunindo os melhores artigos de jornalismo cultural publicados ao longo de seus 15 anos de carreira.

22. Marco Martire: “Vim em 1973. Alfabetizei-me em 1980. Os primeiros versos fiz em 89. Conheci a capoeira durante o ano de 1996. Capoeira angola mandou chamar contém meus contos de estréia. Ficaram prontos em 98. Serão publicados em 2000 pela Fundação Cultura de Recife.”

23. Marcus Vinicius, poeta, crítico, doutor em Literatura Brasileira, autor de Modus Vivendi e Um mais um é sempre mais que dois (edição em parceria). Participa do jornal Panorama como crítico literário e como fiel colaborador do evento semanal de leitura de poesia Panorama da Palavra, idealizado por Helena Ortiz.

24. Messody Ramiro Benoliel Carioca, advogada, compositora, cantora e poeta. Fundadora da APPERJ (Associação dos Profissionais de Poetas do Estado do Rio de Janeiro). Vice-Presidente da Federação das Academias de Letras do Brasil e da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Publicou A Solidão que Ficou, À Flor da Pele, Identidade em Noites de Coroação e Sob Todas as Coisas. Integrante do Jogral Poesia Plural.

25. Mônica Mello Formada em Letras. Tradutora. Uma das fundadoras do Grupo Poesia Simplesmente e uma das principais organizadoras do Festival Carioca de Poesia no Teatro Gláucio Gill e do ConVerso no Café. Tem trabalhos apresentados na exposição de Salvador Dalí, no Museu Nacional de Belas Artes, no Jardim Botânico, Parque das Ruínas e outros. A Origem é seu primeiro livro artesanal, depois veio a antologia do Poesia Simplesmente.

26. Nei Leandro de Castro nasceu no Rio Grande do Norte, em 1940. Mora no Rio de Janeiro desde 1968. Como jornalista, colaborou na fase inicial do Pasquim, com o nome adaptado para Neil de Castro, com o qual assinou dois de seus livros. Publicou oito livros de poesia, dentre os quais se destacam Canto contra canto (poemas políticos), Feira livre e Era uma vez Eros. Escreveu um dos primeiros ensaios sobre a obra de Guimarães Rosa (Universo e vocabulário do Grande Sertão), prêmio nacional de ensaio do Instituto Nacional do Livro. Como romancista, publicou O dia das moscas, pela Editora Codecri, e As pelejas de Ojuara, que teve duas edições pela Editora Nova Fronteira e ganhou o prêmio de romance da União Brasileira de Escritores. Lançou, este ano, seu novo livro de poesia, Diário íntimo da palavra, pela Editora 7 Letras.

27. Pedro Tostes é um poeta de 19 anos, atualmente cursando Comunicação Social na ECO – UFRJ. Já participou de outra coletânea – Poetas do Jardim – e de diversos eventos organizados pelo Poesia Simplesmente. Atualmente, é freqüentador habitual da Ponte de Versos, que se realiza quinzenalmente na Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro.

28. Regina Pouchain, nascida em 3.11.1951, em Botafogo, cidade do Rio de Janeiro, é formada em Filosofia pela U.F.R.J. Em 1989, foi vencedora do concurso nacional de contos Cidade de Araçatuba, em São Paulo. É autora de um livro de contos, uma peça de teatro e uma novela, inéditos. Publicou Partitura Maghinética em 1991 e Gôngora Minax em 2000.

29. Renato Motta participou de seu primeiro concurso de poesia no primário e obteve Menção Honrosa em 1984. Teatro, música, poesia e História fazem parte de seu currículo. Em junho de 2000, entrou para o Grupo Poesia Simplesmente como Web designer, músico percussionista e poeta. Email: renatomr@email.iis.com.br

30. Renato Rezende nasceu em São Paulo em 1964 e vive no Rio de Janeiro com sua esposa e filha. Formou-se em literatura pela Universidade de Boston, Massachusetts, EUA e trabalha no Programa Prossiga do CNPq. Entre outros livros de poemas é autor de Aura (1997), Asa (1999) e Leaves of paradise (2000). É também autor de Histórias e curiosidades do bairro de Laranjeiras (1999). Como pintor e desenhista, já expôs nos EUA, Brasil e México.

31. Ricardo Muniz de Ruiz é carioca, nascido no Posto 6 em 56. É Rubro Negro e devoto de São Sebastião. Participou do Grupo Tá na Rua, quando ele ainda estava na rua. Tem saudades do Real Astória. Saudades do Circo Voador. Foi fotógrafo da Coluna Voadora. Seus blocos preferidos são As Carmelitas, o Simpatia é Quase Amor e Bloco de Segunda. Pode ser encontrado na noite carioca ou recitando versos em eventos como Babylônia Poética na Feira Hype, Curto Circuito da Palavra, Panorama da Palavra, Poesia Simplesmente, Ponte de Versos, Casarão Hermê, Razão Cultural, APPERJ ou Passeando com a Poesia. Ainda tem tempo de ser professor de História. Estudou no ICHF, graduando-se em Ciências Sociais pela UFF, onde também fez seu mestrado em História. Coordena os eventos Canto da Poesia e Ponte de Versos, na Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico.

32. Ricardo Vieira Lima nasceu em Niterói (RJ), em 24 de julho de 1969. Advogado, jornalista e poeta, publica resenhas e entrevistas em diversos órgãos da imprensa brasileira, como Jornal do Brasil, O Globo, Tribuna da Imprensa e A Tarde. Atualmente exerce o cargo de Diretor-Procurador Jurídico do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro. É colaborador, ainda, da revista Poesia Sempre, editada pela Fundação Biblioteca Nacional. Seu livro inédito, Aríete, ganhou o Prêmio Jorge Fernandes de Poesia, da União Brasileira de Escritores – RJ.

33. Ronaldo Werneck, poeta e jornalista, é mineiro de Cataguases (23.10.43), onde foi um dos fundadores, nos anos 60, dos suplementos literários O Muro e SLD. E, na década de 70, de Totem, principal vertente do poema processo em Minas. Morou um ano na Bahia (Salvador, 1964) e trinta e dois no Rio de Janeiro (1965/1997). Redator/editor da Revista Cacex (1972/90) e, até 1995, assessor de imprensa e editor de textos do Centro Cultural Banco do Brasil. Em 1998, voltou a residir em Cataguases. Três livros de poemas publicados: Selva Selvaggia (1976), Pomba Poema (1977) e Minas em mim e o mar esse trem azul (1999) e outros três inéditos: Preto Nu Branco, Doris Day by Night e Tempos de Mineração.

34. Rosa Born Baiana de Salvador, mora no Rio desde a adolescência. Psicanalista. Fundadora e Membro do Grupo Poesia Simplesmente, que tem a preocupação militante de divulgar a boa poesia brasileira de todos os tempos, através da oralidade e da integração com as outras artes. “Sou alguém que não pode não escrever. Atualmente o companheiro mais iluminado é o computador, esta coisa que me acolhe se fazendo luz sempre que desperta o que fala para além de mim, para que eu possa voltar a dormir e sonhar outros sonhos.”

35. Rosália Milsztajn é carioca. Formou-se em medicina pela UFRJ em 1975, sendo psiquiatra, psicanalista e poeta. Menção honrosa no concurso da Editora Litteris, em 1990, publicando na antologia Contos e poemas do Brasil o poema No azul. Menção honrosa no concurso Por um poema de amor, em homenagem a Vinicius de Moraes, da Prefeitura do Rio de Janeiro, publicando o poema Mentira na edição resultante desse evento, em 1995. Participou da Antologia Poética 1998 da I Mostra da Poesia Carioca, Oitenta Poetas do Rio, recebendo o Troféu Moacyr Félix. Primeiro lugar no III Festival de Poesia – Prêmio SESC de Poesia do Estado do Rio de Janeiro de 1999, com o poema Já me perdi. Leitura de poemas em 1999 na Livraria Ponte de Tábuas, Livraria Razão Cultural, Bar Bip Bip, Espaço Cultural Caravelas, Babylônia Feira Hype. Possui três livros individuais: No Azul, Imago Editora, 1991, prefácio de Bella Josef, Itgadal – Memória dos Ausentes, Diadorim, 1996, prefácio de Roberto Pontes e Luminosidades, 7 Letras, 1999, prefácio de Salgado Maranhão. Por este livro, a autora foi convidada a dar depoimento na revista de cultura www.agulha.cjb.net.

36. Rosane Carneiro é autora de Excesso (edição independente, 1999). Organizou o recital quinzenal Ponte de Versos, no Jardim Botânico por quase um ano. Participa da revista literária .doc e integrou a antologia I Mostra de Poesia Carioca Moacir Félix (Logos, 1998), com apresentações em diversos eventos do roteiro da poesia. É jornalista e redatora, atuando em instituições como o Senac (Revista Senac e Educação Ambiental) e a Fundação Biblioteca Nacional (livros Um Foco de Vida, 1999, e Fotobiografia dos 190 Anos da Biblioteca Nacional, 2000), já tendo passado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (ex-Assessora de Imprensa) e diversos veículos, como O Globo e Jornal do Brasil.

37. Sérgio Gerônimo Alves Delgado Militar da reserva, professor, psicólogo, pós-graduado em Psicossomática e editor (OFICINA Editores – http://www.oficinaeditores.com.br). Vice-presidente da Associação Profissional dos Poetas no Estado do Rio de Janeiro (APPERJ), membro da União Brasileira de Escritores, do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro, da Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro, do Instituto dos Docentes do Magistério do Exército e da Sociedade Brasileira de Psicossomática Contemporânea. Publicou Profanas & Afins (1991), Outras Profanas (1998), Enfim Afins (2000) – livro virtual, disponibilizado no site http://www.geocities.com/livronline/sergeron.htm (poesia). Participou e organizou as coletâneas Cadernos de Poesia (Oficina 9 a 28), Agenda Literária (Oficina 1992 a 2000). Participou também das coletâneas Perfil (poesia) da APPERJ e da Oficina mais prosa. Consta como verbete no Dicionário de Poetas Contemporâneos. Homepage http://www.orbita.starmedia.com/~sergio_geronimo. E-mail: sergeron@pontocom.com.br

38. Silvio Ribeiro de Castro Biografia quase completa: “Nasci no século 20, numa fazendinha perdida no interior do Brasil. Fecho os olhos e a imagem vai se tornando nítida: uma casa branca de janelas verdes (ou seriam azuis?). De um lado, uma montanha enorme. Do outro, um riacho de muitos banhos e pescarias. Vim pra cidade grande e comecei a trabalhar ainda garoto. Fui office-boy, escriturário, desenhista, bancário e funcionário público. Hoje, tentando recuperar o tempo perdido, sou poeta em tempo integral. Ou pretendo ser.”

39. Tanussi Cardoso Desde a década de 70, Tanussi Cardoso, sozinho ou integrando grupos performáticos, vem agitando o circuito poético carioca. Formado em Jornalismo e Direito, é, também, contista e letrista. Colabora com diversos jornais e revistas literárias. Além de ter participado de várias coletâneas, possui quatro livros de poemas: DESINTEGRAÇÃO (Ed. do Autor/1979/RJ); BOCA MALDITA (Ed.Trote/1982/RJ), prefácio de Leila Míccolis; BECO COM SAÍDAS (Edicom Ed/1991/SP), prefácio de Socorro Trindad, Prêmios UBE/GO e UBE/RJ; VIAGEM EM TORNO DE (Ed. 7Letras/2000/RJ), prefácio de Salgado Maranhão, Prêmios Ruth Scott, Jorge de Lima e Carlos Drummond de Andrade). Tem poesias publicadas no exterior e poemas traduzidos para o francês e o espanhol, sendo detentor de vários prêmios literários. Seu trabalho poético foi tema de monografia na UFRJ, apresentado por Márcia Miranda Jayme. É Membro da APPERJ.

40. Teresa Drummond Poeta, cronista, biógrafa, contista e intérprete. Autora do Projeto Cultural “Poeta, saia da gaveta!”, fundado em 1993. Leciona em Oficina de Poesia, desde 1991. Detentora de alguns prêmios, entre eles Troféu Musa dos Poetas, Troféu Cadete Thomaz Coelho, Troféu Noel Rosa, Troféu Mulher Literatura, Moções da Câmara Municipal do Rio de Janeiro e Prêmio Lions de Cultura. Publicou A História de Chatuba, literatura de cordel, 1998, pelo Programa Baixada Viva, do Governo do Estado do Rio de Janeiro e Trampolim do Poeta, poesia, Ed. Oficina do Livro, 1991, adotado como livro paradidático. Tem ainda inéditos Fim do Milênio, poesia e Enquanto Houver Dança, biografia de Maria Antonietta, decano da dança de salão. Organizou Caleidoscópio I e II, poesia __ antologia do Projeto Cultural Poeta, saia da gaveta!. Autora do projeto de livro Brasil de Cabo a Rabo – 500 Anos de História, de literatura de cordel. Seu poema Irreverência foi o primeiro a ser editado em cartão telefônico pela Telemar em 1999.

41. Thereza Christina Rocque da Motta nasceu em São Paulo em 1957, é advogada, professora de inglês, tradutora, editora e fundadora da Ibis Libris no Rio de Janeiro em 2000. Em 1980, fundou o Grupo Poeco-Só Poesia e lançou suas antologias (Ensaio I, II, III, IV e V). Publicou Relógio de Sol (1980), Papel Arroz (1981), Joio & trigo (1982), o pôster-poema Décima Lua (1983), Areal (1995) e Sabbath (1998), pela Editora Blocos. Também participou da antologia de poesia erótica Carne Viva (1984) e da Antologia da Nova Poesia Brasileira (1992), organizadas por Olga Savary. Fez parte da Ponte Poética (1995), organizada por Claufe Rodrigues e Claudio Willer, que reuniu poetas do Rio de Janeiro e São Paulo, como Roberto Piva, Mano Melo, Chacal, Denise Emmer, Ivan Junqueira, Geraldinho Carneiro, Roberto Bicelli, Eduardo Alves da Costa, entre outros e das leituras do Poesia 96 e 97, promovidas pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Vive atualmente no Rio, onde participa de leituras de poesia da cidade, entre elas, o Panorama da Palavra, Razão Cultural, Casarão Hermê e Poesia Simplesmente. Atualmente, também coordena o evento Ponte de Versos, na Livraria Ponte de Tábuas, no Jardim Botânico.

42. Tom Reiss Médico veterinário homeopata, capista e Web designer de OFICINA Editores e da APPERJ. Já publicou em Cadernos de Poesia OFICINA 27 e 28, Agenda Literária 2000 – Na Virada do Milênio, Perfil de um Novo Milênio, Calendário de Poesia 2000, cartões telefônicos da Telemar – séries Atmaísmo e Cavalos. Tem seu livro virtual disponível em http://www.geocities.com/livronline/tomreiss.htm

43. Túlio Villaça nasceu em 1971 e escreve desde 1987. Além de poeta, é músico e ator. Mora em Del Castilho, zona Norte do Rio e não se muda por nada. Realiza trabalhos de arte-educação como voluntário. Adora futebol, assiste sempre, mas não tem tempo para jogar. Tem o cacoete de mexer no nariz e, às vezes, fala alto demais. Não consegue arrumar o quarto de jeito nenhum. Gosta de andar e, quando está duro, vai a pé aonde pode, poupa ônibus para comprar CDs. Escreve, porque, quando vê, já escreveu e agradece a atenção dispensada.

44. Veronica Diaz nasceu em San José, na Costa Rica, morou no Peru e vive no Rio de Janeiro desde 1968. É formada em Física pela UFRJ e é também atriz formada pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Mas, como bailarina, integrou a Cia. Aérea de Dança, participando do espetáculo Asas, em 1986/87 . Como contadora de histórias, já se apresentou em hospitais, orfanatos, bibliotecas, praças públicas e ministrou oficinas. Atualmente leciona Física para alunos do Ensino Médio, integra um grupo de teatro e – sempre que pode – escreve (poesia, contos, crônicas e textos para teatro).